Orbán declara sua vitória em eleição nacional na Hungria

Orbán declara sua vitória em eleição nacional na Hungria

Frente única de seis partidos de oposição reconhece derrota. Guerra na Ucrânia virou tema central na reta final da campanha. Analistas apontam que controle da mídia e da economia dificultam mudança de rumo no país.O primeiro-ministro da Hungria, Viktor Orbán, reivindicou a sua vitória nas eleições parlamentares da Hungria, realizadas neste domingo (03/04). Peter Marki-Zay, líder da frente única de oposição, reconheceu a derrota diante dos resultados preliminares da votação.

Com 75% dos votos apurados, o Fidesz, partido de Orbán, de perfil nacionalista de direita e autoritário, tinha recebido 54,5% dos votos, enquanto a frente única de oposição, Unidos pela Hungria, tinha 34%, segundo o órgão responsável pela organização das eleições. O resultado posiciona Orbán para exercer seu quarto mandato consecutivo como primeiro-ministro.

Em um discurso de dez minutos a seus apoiadores, em Budapeste, antes dos resultados finais, Orbán afirmou que seu partido tinha obtido uma “vitória imensa”. “Tivemos uma vitória tão grande que você pode vê-la a partir da Lua, e você certamente pode vê-la a partir de Bruxelas”, disse. O primeiro-ministro Húngaro é ferrenho crítico da União Europeia, que com frequência o questiona por retrocessos democráticos e suspeitas de corrupção.

Havia expectativa que a disputa deste domingo seria a mais apertada desde que Orbán assumiu o poder, em 2010, graças a uma coalizão dos seis principais partidos de oposição da Hungria, que puseram de lado suas diferenças ideológicas e formaram uma frente única, liderada pelo conservador Marki-Zay.

No entanto, mesmo em seu distrito de origem, Marki-Zay estava atrás do candidato do Fidesz, Janos Lazar, por mais de 11 pontos, com 74% dos votos apurados – sinal desanimador para o candidato a primeiro-ministro que havia prometido acabar com o que ele chama de corrupção desenfreada no governo e elevar o nível de vida, aumentando as verbas para escolas e hospitais em dificuldade.

Condições da disputa

Partidos da oposição e observadores internacionais apontaram obstáculos estruturais para derrotar Orbán, como o viés pró-governo generalizado na mídia pública, o controle dos veículos de mídia comerciais por aliados do primeiro-ministro e um mapa das zonas eleitorais manipulado a favor da situação.

Edit Zgut, cientista política da Academia Polonesa de Ciências em Varsóvia, afirmou à agência de notícias Associated Press que uma vitória clara de Orbán permitiria que ele aprofundasse a linha autocrática, afastando dissidentes e capturando novas áreas da economia.

“A Hungria parece ter chegado a um ponto sem retorno”, disse ela. “A principal lição é que o campo de jogo está tão inclinado que se tornou quase impossível substituir o Fidesz nas eleições.”

A coalizão de oposição defende uma nova cultura política baseada em um governo pluralista e a reparação de alianças com a União Europeia (UE) e países da Otan.

Guerra na campanha

No início da campanha eleitoral, Orbán estava focado em questões sociais e culturais divisivas, mas mudou drasticamente o tom após a invasão russa da Ucrânia e passou a retratar as eleições como uma escolha entre paz e estabilidade ou guerra e caos.

Enquanto a oposição queria que a Hungria apoiasse a vizinha Ucrânia e agisse em sintonia com seus parceiros da UE e da Otan, Orbán, um aliado de longa data do presidente russo Vladimir Putin, insistiu que a Hungria deveria permanecer neutra e manter estreitos laços econômicos com Moscou, inclusive continuando a importar gás e petróleo russos em condições favoráveis.

Em seu último ato de campanha, na sexta-feira, Orbán afirmou que fornecer armas à Ucrânia, algo que a Hungria se recusou a fazer, faria do país um alvo militar, e que sancionar as importações de energia da Rússia prejudicaria a própria economia da Hungria. “Esta não é nossa guerra, temos que ficar de fora dela”, disse.

O presidente da Ucrânia, Volodimir Zelenski, no sábado descreveu o líder húngaro como alguém desconectado do resto da Europa – que se uniu para condenar Putin, apoiar as sanções contra a Rússia e enviar ajuda, inclusive armas, à Ucrânia. “Ele é praticamente o único na Europa a apoiar abertamente o senhor Putin”, disse Zelenski.

“Batalha árdua”

Depois de votar em sua cidade natal de Hodmezovasarhely, onde é prefeito, Marki-Zay chamou a eleição de domingo de uma “batalha árdua”, devido aos recursos econômicos superiores do Fidesz e de sua vantagem na mídia.

“Estamos lutando pela decência, estamos lutando pela independência do Judiciário e pelo Estado de direito na Hungria”, disse Marki-Zay. “Queremos mostrar que este modelo que Orbán introduziu aqui na Hungria não é aceitável para nenhum homem decente e honesto.”

Marki-Zay escreveu mais tarde em uma rede social para agradecer a todos os húngaros que votaram e aos mais de 20 mil fiscais voluntários que os partidos da oposição destinaram a locais de votação em todo o país. “Expresso minha gratidão aos civis que passaram o dia inteiro verificando a correição da eleição e agora estão começando a contagem”, afirmou.

Orbán, um crítico feroz da imigração, dos direitos LGBTQ e dos “burocratas da UE”, conquistou a admiração dos nacionalistas de direita em toda a Europa e da América do Norte. Ele submeteu muitas das instituições da Hungria ao seu controle e se apresenta como um defensor da cristandade europeia contra os migrantes muçulmanos, os progressistas e o “lobby LGBTQ”.

Junto com a eleição para o Parlamento, um referendo sobre questões LGBTQ foi realizado no domingo. As questões diziam respeito aos programas de educação sexual nas escolas e à disponibilidade de informações para crianças sobre mudança de sexo.

A Organização para Segurança e Cooperação na Europa enviou uma missão de observação completa à Hungria para monitorar a eleição de domingo, a segunda vez que fez isso em um país da União Europeia.

bl (AP, Reuters)