11/04/2020 - 12:07
Fé na proteção divina, defesa da economia ou simplesmente uma posição política: um punhado de estados rurais dos Estados Unidos, partidários fervorosos do presidente Donald Trump, recusam-se obstinadamente a emitir ordens de confinamento, apesar dos estragos provocados pelo coronavírus.
Dois deles – Dakota do Sul e Iowa – preferiram convocar dias de oração coletiva nesta Semana Santa contra a doença.
A governadora republicana de Dakota do Sul, Kristi Noem, justificou sua decisão de resistir à tendência nacional de ordenar o confinamento geral, garantindo que “as pessoas devem ser as principais responsáveis por sua segurança”.
Noem, de 48 anos e descendente de uma família de agricultores, considera as restrições “medidas draconianas semelhantes às adotadas pelo governo chinês” e proclamou oficialmente a quarta-feira como um “dia de oração pelo fim desta pandemia”.
Em Iowa, orações coletivas foram realizadas na quinta-feira passada, lideradas pelo governador Kim Reynolds, também republicano.
“Ao longo de nossa história, o povo de Iowa encontrou paz, força e união através da oração a Deus, humildemente pedindo força em tempos de angústia”, escreveu em sua proclamação oficial.
Na semana passada, as autoridades médicas do estado solicitaram por unanimidade ordens de contenção semelhantes às vigentes para 95% da população dos EUA.
Mas Reynolds considerou que essas medidas não eram necessárias em áreas onde o coronavírus não atingiu tão forte, embora tenha ordenado o fechamento de escolas, alguns negócios não essenciais e locais públicos, além de proibir reuniões de mais de 10 pessoas.
Há pessoas portadoras do vírus que não o sabem porque não apresentam sintomas.
– Comércio e fé –
“Não se trata tanto do que o governo diz, mas mais do que as pessoas fazem”, disse Doug Burgum, governador da Dakota do Norte, outro estado que reluta em tomar medidas de contenção, junto com Nebraska.
Mais ao sul, no Arkansas, o governador Asa Hutchinson disse que fatores locais, como a baixa densidade populacional da área, tornam desnecessária a contenção geral.
E ele criticou as ordens de autoridades locais, como do prefeito da capital do estado, Little Rock, que impôs restrições de viagem.
A vizinha Louisiana implementou medidas de confinamento, mas alguns resistem aparando-se nas liberdades religiosas garantidas pela Constituição.
Centenas de fiéis da igreja Tabernáculo da Vida desafiaram a proibição na cidade de Central e assistiram ao culto do último domingo.
“Eles preferem ir à igreja e adorar como pessoas livres do que viver como prisioneiros em suas casas por 22 dias”, disse o pastor Tony Spell, detido por violar o confinamento. No entanto, ele disse que não tem intenção de interromper sua pregação.
“O vírus se alimenta do medo. Não tenho medo, tenho fé”, disse um adorador da igreja ao Washington Post.
No nordeste de Ohio, os locais de culto foram isentos da proibição de reuniões de massa, apesar da relutância do governador.
“Estou coberta do sangue de Jesus”, disse uma fiel da igreja Solid Rock, em Monroe, quando perguntada por que não tinha medo de contrair ou espalhar a infecção enquanto participava de um culto.