“Oppenheimer”, vencedor do Oscar de melhor filme em 2024, finalmente estreou nesta sexta-feira (29) nos cinemas do Japão, onde o longa-metragem sobre o homem que comandou o programa de desenvolvimento da bomba atômica americana é uma questão muito sensível.

A produção de sucesso estreou nas salas de cinema dos Estados Unidos e de vários países em julho do ano passado, na mesma época de “Barbie”, o que provocou o fenômeno viral “Barbenheimer.

O filme inspirado na famosa boneca estreou em agosto no Japão, mas “Oppenheimer” não encontrou espaço nos cinemas do país por muitos meses.

Nenhuma explicação oficial foi apresentada, o que alimentou as especulações de que o filme seria muito polêmico para ser exibido no Japão, o único país que foi vítima da bomba concebida pelo projeto liderado por Robert Oppenheimer.

Quase 140.000 pessoas morreram em Hiroshima e 74.000 em Nagasaki quando os Estados Unidos lançaram bombas atômicas sobre estas cidades em 1945, poucos dias antes do fim da Segunda Guerra Mundial.

Em uma grande sala de cinema do centro de Tóquio, onde o filme de Christopher Nolan estava em exibição nesta sexta-feira, não havia qualquer sinal dos cartazes promocionais que um cinéfilo espera de um sucesso global.

Apenas um pequeno pôster anunciava o filme, que teve orçamento de 100 milhões de dólares e arrecadou quase US$ 1 bilhão nas bilheterias de todo o mundo.

– Sentimentos contraditórios em Hiroshima –

A história do físico Robert Oppenheimer foi elogiada pela crítica e recebeu muitos prêmios: o longa-metragem foi o grande vencedor do Oscar este ano, com sete estatuetas, incluindo melhor filme, melhor diretor e melhor ator para Cillian Murphy.

Mas em Hiroshima, a cidade japonesa devastada pela primeira bomba nuclear, o sucesso do filme gera sentimentos contraditórios.

Kyoko Heya, presidente do festival internacional de cinema da cidade, disse à AFP após a cerimônia do Oscar que considerou o filme de Nolan “muito centrado nos Estados Unidos”.

“Este é realmente um filme que as pessoas em Hiroshima suportam assistir?”, questionou.

A cidade se recuperou e hoje é uma metrópole vibrante com 1,2 milhão de habitantes, mas as ruínas de um edifício abobadado ainda permanecem como uma lembrança dos horrores do ataque, ao lado de um museu de outros memoriais sombrios.

Depois de muita reflexão, Heya concluiu: “Agora quero que muitas pessoas assistam ao filme”.

“Eu ficaria feliz de ver Hiroshima, Nagasaki e as armas atômicas se tornarem assunto de discussões graças a este filme”, disse.

Na imprensa japonesa, os críticos destacam que o filme não mostra os danos provocados pelas bombas atômicas.

“Poderia ter havido muito mais descrição e representação do horror das armas atômicas”, disse Takashi Hiraoka, 96 anos, sobrevivente da bomba e ex-prefeito de Hiroshima, em uma exibição especial na cidade no início do mês.

“Oppenheimer” também foi exibido em pré-estreia em Nagasaki, onde o sobrevivente Masao Tomonaga, de 80 anos, se declarou impressionado com o filme.

“Achei a falta de imagens de sobreviventes da bomba atômica no filme era uma fraqueza”, disse Tomonaga, que tinha dois anos quando a segunda bomba foi lançada e que se dedicou a pesquisar a leucemia provocada pelos ataques atômicos.

“Mas, na verdade, as frases de Oppenheimer em dezenas de cenas mostraram seu choque diante da realidade do bombardeio atômico. Isso foi o suficiente para mim”, concluiu.

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