Opositores venezuelanos apresentaram ao Tribunal Penal Internacional (TPI) em Haia documentos sobre a morte do piloto Óscar Pérez e seis de seus colegas, para endossar investigações preliminares contra o governo de Nicolás Maduro, acusado de “crimes contra a humanidade”.

A ação foi explicada em coletiva de imprensa em Madri pelo deputado da Assembleia Nacional Franco Casella e pelo ex-deputado Wilmer Azuaje. Ao lado deles estava o irmão de Óscar Pérez, Armando, que mora na Espanha com sua família.

A documentação – cerca de 400 fotos e vários vídeos – foi apresentada na segunda-feira em Haia e tem a ver com o chamado “Massacre de Junquito”: uma operação policial e militar nos arredores de Caracas em janeiro de 2018, em que sete opositores morreram, incluindo o ex-policial e piloto Óscar Pérez, e dois agentes, segundo o governo.

Pérez havia se tornado “o homem mais procurado” depois que, em 27 de junho de 2017, sobrevoou Caracas em um helicóptero da polícia com alguns de seus companheiros, jogando quatro granadas contra o Tribunal Supremo de Justiça e atirando no ministério do Interior.

“É possível ver nas imagens tiros que foram dados de graça”, disse Azuaje, afirmando que as armas dos sete “não foram disparadas” e, portanto, não puderam se defender.

“Tendo se rendido [os sete], foram crivados de balas”, disse Casella, líder da Vontade Popular, contradizendo a versão do governo que os opositores atacaram primeiro.

Em um documento datado de segunda-feira, os dois dizem que entregaram ao TPI todos esses documentos gráficos, que “demonstram a execução” de Óscar Pérez e de seus seis companheiros, que constituem “crimes de lesa humanidade cometidos pelos órgãos de segurança nacional da Venezuela, comandados por Nicolás Maduro Moros”.

Azuaje explicou à AFP que ele próprio recebeu as fotografias em fevereiro passado, das mãos de seu autor, um detetive da polícia venezuelana que agora reside no Peru.

“Peço à procuradora do TPI [Fatou Bensouda] que volte os olhos para a Venezuela”, disse Azuaje, que vive atualmente entre a Colômbia e os Estados Unidos.

“Nunca perdi a esperança de ver essas pessoas atrás das grades”, acrescentou Armando Pérez.

Em fevereiro de 2018, o TPI iniciou investigações preliminares por “supostos crimes” na Venezuela durante as manifestações contra o presidente Nicolás Maduro, que fizeram cerca de 125 mortos em 2017.

Em setembro de 2018, Argentina, Canadá, Chile, Colômbia, Paraguai e Peru solicitaram ao Tribunal que investigasse os crimes contra a humanidade cometidos, segundo eles, pelo governo Maduro desde 2014.

Em um relatório publicado em 5 de dezembro, a procuradoria do TPI disse que “no início de 2020” espera finalizar sua avaliação dos documentos recebidos, entre outros, da OEA e do Alto Comissariado das Nações Unidas para os Direitos Humanos.