Pré-candidatos opositores à Presidência da Venezuela concordaram nesta quarta-feira (12) sobre a necessidade de garantir um único adversário para enfrentar Nicolás Maduro em 2024, mas divergiram nas alternativas diante dos obstáculos que enfrentarão até as eleições.

As primárias da oposição estão programadas para 22 de outubro, mas enfrentam um pedido na justiça para proibi-las, sem contar que muitos dos participantes estão inelegíveis para ocupar cargos públicos.

“A Venezuela precisa de unidade nas bases, na sociedade, onde todos os venezuelanos possam escolher uma liderança que nos dê confiança”, disse a ex-deputada María Corina Machado, do grupo mais radical e favorita nas pesquisas.

“Quanto mais obstáculos colocarem no nosso caminho, mais empenho devemos ter.”

– Plano B? –

Participaram, também, Carlos Prosperi, do tradicional partido Ação Democrática (AD); os ex-governadores César Pérez Vivas (Táchira) e Andrés Velásquez (Bolívar); a ativista trans e ex-deputada Tamara Adrián; a ex-deputada Delsa Solórzano; o ex-presidente da autoridade eleitoral, Andrés Caleca; e Freddy Superlano, que assumiu o lugar do líder da oposição Juan Guaidó quando este fugiu para os Estados Unidos.

Todos concordaram na maioria dos temas, desde rotular o governo de Maduro como “ditadura” até questões econômicas, passando pela restauração da institucionalidade para sair da crise.

A divergência ocorreu no ponto das alternativas caso a eleição primária seja proibida pela suprema corte após ter sido impugnada na semana passada, ou caso o vencedor esteja impedido de participar das eleições presidenciais.

Machado, Superlano e o duas vezes candidato presidencial Henrique Capriles, que se absteve de participar do debate, estão inelegíveis. Solorzano e Caleca pediram discussão e construção de uma alternativa, enquanto Machado e Velásquez insistiram em defender o resultado a todo custo.

“Não é Maduro quem vai decidir nossa candidatura, são os cidadãos!”, concluiu Velásquez.

As primárias já haviam sofrido outro golpe após a renúncia da diretoria do Conselho Nacional Eleitoral (CNE), cujo apoio técnico foi considerado, mas descartado, devido à futura designação de novas autoridades no Parlamento, controlado pelo chavismo.

O novo CNE definirá a data das eleições de 2024, nas quais Maduro buscará um terceiro mandato de seis anos.

“Desde que iniciamos nossa participação nas primárias, estávamos cientes do que iríamos enfrentar, que não era uma eleição convencional”, destacou Superlano.

– A mão da discórdia –

Os debates eleitorais são uma raridade na política venezuelana. Maduro, assim como seu antecessor Hugo Chávez, nunca debateu com qualquer candidato antes de uma eleição. A oposição já o fez anteriormente entre si em 2011, em preparação para as primárias inéditas de 2012.

“A oposição, com esse debate, demonstra sua disposição democrática. A oposição está dizendo ao país: queremos um país onde isso seja normal, onde as diferenças sejam absolutamente normais e não representem a anulação do adversário”, explica o consultor e analista político Pablo Andrés Quintero.

Quintero, no entanto, considerou que “faltou substância no discurso”. “Sinto que muitos políticos não foram próximos das pessoas”, concentrando a agenda na política.

A oposição venezuelana atravessa um momento difícil de divisão, e as primárias se apresentam como uma oportunidade para uma coesão.

Mas Machado “não deu uma imagem de unidade, pois na foto ela não apertou a mão do candidato Pérez Vivas, que tentou cumprimentá-la, e isso é negativo para a oposição”, comentou Quintero em relação ao momento final em que os candidatos posaram para as câmeras de mãos dadas.

– Fantasma –

Henrique Capriles, que enfrentou Chávez em 2012 após vencer as primárias, e Maduro um ano depois, decidiu não participar por considerar que não era o momento adequado para um debate entre opositores.

“A resposta diante de todos os ataques da ditadura, do regime, é debater entre nós? É ressaltar as diferenças, é marcar contrastes entre nós?”, questionou na segunda-feira.

Maduro destacou essa ausência em um acalorado e incomum debate no Twitter com o líder opositor.

“Onde está o fantasma hoje que não o vejo? Movendo-se nas sombras!”, escreveu Maduro, que tem chamado Capriles de “fantasma”, enquanto o líder opositor responde citando casos de corrupção dentro do governo.

“Fantasma são as obras inacabadas no país, fantasmas são os salários que os professores e os funcionários públicos não recebem. Esses e os fantasmas da chamada revolução são os únicos relevantes deste governo, o pior da história!”, replicou.

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