O opositor russo Alexei Navalny prevê voltar para Moscou neste domingo (17), após vários meses de tratamento na Alemanha depois de sofrer um suposto envenenamento, apesar das ameaças de prisão da Justiça russa.

Desde que o principal inimigo de Vladimir Putin anunciou na quarta-feira sua intenção de retornar, os serviços penitenciários russos (FSIN) alertaram que serão “obrigados” a prendê-lo por violar as condições de uma condenação com suspensão de pena que a Justiça lhe impôs em 2014.

Navalny, de 44 anos, não fez caso dessas manobras que, segundo ele, estão destinadas a “amedrontá-lo” e pediu aos seus apoiadores que o recebam no aeroporto de Vnukovo, onde seu avião deve pousar às 19h20 (15h20 no horário de Brasília).

Na véspera de sua partida, o opositor agradeceu os médicos, policiais e políticos alemães que conheceu durante os cinco meses que passou no país. “Obrigado, amigos”, escreveu no Instagram.

A principal figura da oposição russa entrou subitamente em coma em agosto, quando retornava de uma viagem para a Sibéria. Inicialmente, foi hospitalizado em Omsk, uma grande cidade da região, mas alguns dias depois foi transferido para um hospital de Berlim após a pressão de seus familiares.

Três laboratórios europeus concluíram que o opositor foi envenenado com um agente nervoso do tipo Novichok, desenvolvido na época soviética, uma conclusão que foi confirmada pela Organização para a Proibição de Armas Químicas (OIAC), apesar de Moscou negar as afirmações.

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O opositor acusa os serviços especiais russos (FSB) de tentar assassiná-lo por ordem direta de Vladimir Putin. No entanto, as autoridades russas acusam os serviços secretos ocidentais e até a higiene da vida de Navalny.

Até agora, Moscou se recusa a abrir uma investigação para descobrir o que aconteceu com Navalny, devido à suposta rejeição da Alemanha de compartilhar suas informações com a Rússia.

Berlim anunciou neste sábado que transmitiu a Moscou todos os elementos de sua investigação judicial, especialmente as “atas” dos interrogatórios de Navalny e “amostras de sangue e tecido, assim como pedaços de roupa”, enquanto espera que as autoridades “resolvam o crime”.

– Investigação por fraude –

Segundo o FSIN, Navalny violou quando estava na Alemanha as condições da condenação de 2014, que o obriga a se apresentar pelo menos duas vezes por semana à administração penitenciária.

Desde o final de dezembro, o opositor também é alvo de uma nova investigação por fraude, por suspeitas de ter gastado para seu uso pessoal 356 milhões de rublos (3,9 milhões de euros, 4,8 milhões de dólares) de doações.

Mais de 2.000 pessoas anunciaram no Facebook que irão recebê-lo, mas a Justiça alertou sobre os riscos de participar de um “evento público” não autorizado no aeroporto de Vnukovo.

Vários ativistas que iriam viajar de São Petersburgo para Moscou para se reunir com o opositor foram detidos pela polícia antes de sair, segundo a mídia local.

Por sua vez, grupos nacionalistas hostis a Navalny ameaçaram recebê-lo com “zelionka”, um antisséptico de cor verde difícil de limpar, com o qual já atingiram o opositor no passado.

O aeroporto declarou que não autorizará a imprensa a trabalhar no terminal devido à pandemia de coronavírus. Vídeos publicados nas redes sociais mostraram a polícia anti-distúrbios em frene ao local.


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