31/03/2024 - 16:17
A apuração parcial dos votos das eleições municipais turcas, neste domingo (31), antecipa uma tendência favorável à oposição em Istambul e Ancara, apesar do forte envolvimento do presidente Recep Tayyip Erdogan na campanha.
Diante da crise econômica que afeta as famílias, os prefeitos de Istambul e da capital, Ancara, foram apontados como favoritos pelos institutos de pesquisa.
Com 33% das urnas apuradas às 20h locais (14h de Brasília), o prefeito de Istambul, Ekrem Imamoglu, do partido social-democrata CHP, somava 49,7% dos votos contra 41,5% de seu principal adversário, o o ex-ministro Murat Kurum, do partido no poder, o AKP.
Imamoglu se mostrou prudente nas declarações à imprensa na noite deste domingo. “A foto que temos à vista agrada, mas vamos esperar os resultados completos”.
Em Ancara, o prefeito Mansur Yavas, também do CHP, estava à frente de seu adversário, com 57,1% dos votos contra 35,6%, após a apuração de 15,4% das urnas.
As eleições municipais são consideradas um teste para o presidente Recep Tayyip Erdogan, que pretende tomar da oposição a Prefeitura de Istambul.
“Há uma necessidade real de equilíbrio, ao menos em nível local, contra o governo”, disse, em Ancara, Serhan Solak, de 56 anos, que declarou pretender votar em Mansur Yavas.
Embora o chefe de Estado não seja candidato nestas eleições locais, sua sombra se projetou mais do que nunca sobre as urnas.
Aos 70 anos, Erdogan se envolveu de corpo e alma na campanha eleitoral deste país de 85 milhões de habitantes para impulsionar os candidatos do seu partido, o islâmico-conservador AKP.
O presidente chegou a realizar quatro comícios por dia.
“Esta eleição vai marcar o início de uma nova era para o nosso país”, afirmou, após votar em Istambul.
Erdogan foi prefeito da cidade nos anos 1990, antes de ser presidente e, neste pleito, se empenhou para tirar da Prefeitura Imamoglu, personalidade de destaque da oposição que lhe arrebatou a principal e mais rica cidade do país.
Se Imamoglu for reeleito, ele poderia ganhar muito peso com vistas às eleições presidenciais de 2028.
“Espero que Istambul e a Turquia acordem [na segunda-feira] com uma bela manhã de primavera”, disse o prefeito após votar na companhia de sua família.
Erdogan o descreveu como um indivíduo ambicioso e pouco preocupado com a cidade, tachando-o de “prefeito em meio período”, obcecado com a Presidência.
Na província de maioria curda de Diyarbakir, no sudeste do país, foram registrados confrontos à margem das eleições neste domingo: uma pessoa morreu e 12 ficaram feridas, informou um funcionário à AFP.
Desta vez, ao contrário de 2019, a oposição enfrenta dispersa estas eleições. O partido CHP (social-democrata), a principal legenda opositora, não conseguiu o consenso para o nome de Imamoglu em Istambul, nem em outras regiões do país.
O partido pró-curdo Dem se apresentou sozinho, o que favoreceria o partido no poder, ameaçado pela pressão do partido islamista Yeniden Refah.
Antes das eleições, o presidente do partido CHP, Özgür Özel, afirmou que sua formação alcançaria “uma grande vitória” nas urnas, sem que esta represente “a derrota de ninguém”.
O país enfrenta uma inflação oficial de 67% em 12 meses e uma desvalorização expressiva de sua moeda (de 19 a 31 liras turcas por dólar em um ano).
“Se conseguir voltar a Istambul e Ancara, Erdogan verá um estímulo para modificar a Constituição para voltar a se candidatar em 2028”, afirmou, antes das eleições, Bayram Balci, pesquisador do Centro de Estudos e Pesquisas Internacionais (Ceri)-Sciences-Po, em Paris.
Ao contrário, se “Imamoglu conseguir se manter, terá vencido a batalha dentro da oposição para se impor” como líder das fileiras com vistas às próximas eleições presidenciais.
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