O principal partido de oposição da Turquia reivindicou a vitória nas eleições municipais deste domingo (31) nas principais cidades do país, Istambul e Ancara, apesar do forte envolvimento do presidente na campanha, segundo resultados parciais.

O prefeito de Istambul, o opositor Ekrem Imamoglu, anunciou esta noite sua reeleição à frente da maior cidade da Turquia, onde foi eleito pela primeira vez em 2019.

“Estamos em primeiro lugar com uma vantagem de mais de um milhão de votos (…) Vencemos a eleição”, disse à imprensa o candidato do partido opositor CHP, acrescentando que estes resultados se baseavam na apuração de 96% das urnas.

“Os eleitores decidiram mudar a cara da Turquia”, afirmou Özgür Özel, presidente do social-democrata CHP, após a divulgação dos primeiros resultados na noite deste domingo.

Aos 70 anos, o presidente Recep Tayyip Erdogan se envolveu de corpo e alma na campanha eleitoral deste país de 85 milhões de habitantes para impulsionar os candidatos do seu partido, o islâmico-conservador AKP.

Um de seus principais objetivos era recuperar a Prefeitura de Istambul, capital econômica do país, que ele governou entre 1994 e 1998.

Mas o presidente admitiu que os resultados deste pleito marcam “uma mudança” para seu partido, o AKP, embora tenha prometido “respeitar a decisão da nação”.

“Lamentavelmente não alcançamos os resultados que queríamos”, disse Erdogan na sede de seu partido diante de apoiadores desanimados.

A crise econômica que afeta as famílias, com uma inflação elevada, beneficiou a oposição e o prefeito de Istambul proclamou sua vitória.

Em Ancara, o prefeito Mansur Yavas, também do CHP, reivindicou a vitória depois da apuração de 46,4% das urnas, que o colocaram na dianteira com 58,6% dos votos frente a 33,5% do candidato apoiado por Erdogan.

O CHP também tem uma vantagem importante em Esmirna, a terceira cidade do país.

As eleições municipais são consideradas um teste para o governo de Erdogan.

“Há uma necessidade real de equilíbrio, ao menos em nível local, contra o governo”, disse, em Ancara, Serhan Solak, de 56 anos, que declarou ter votado em Mansur Yavas.

Embora o chefe de Estado não fosse candidato nestas eleições locais, sua sombra se projetou mais do que nunca sobre as urnas, pois chegou a realizar quatro comícios por dia.

– Istambul, mais que uma Prefeitura –

Erdogan foi prefeito da cidade nos anos 1990, antes de ser presidente e, nestas eleições, se empenhou em tirar da Prefeitura Imamoglu, personalidade de destaque da oposição que lhe arrebatou a principal e mais rica cidade do país.

A reeleição de Imamoglu pode dar a ele muito peso com vistas às eleições presidenciais de 2028.

“Espero que Istambul e a Turquia acordem [na segunda-feira] com uma bela manhã de primavera”, disse o prefeito após votar na companhia de sua família.

Erdogan o descreveu como um indivíduo ambicioso e pouco preocupado com a cidade, tachando-o de “prefeito em meio período”, obcecado com a Presidência.

Apesar da mobilização de recursos de Erdogan, a crise econômica comprometeu as chances do seu partido.

O país enfrenta uma inflação oficial de 67% em 12 meses e uma desvalorização expressiva de sua moeda, que passou de 19 a 31 liras turcas por dólar em um ano.

“As pessoas estão preocupadas com o dia a dia”, disse Guler Kaya, de 43 anos, moradora de Istambul. “A crise está engolindo a classe média, tivemos que mudar nossos hábitos”, relatou. “Se Erdogan vencer, será ainda pior”.

Na província de maioria curda de Diyarbakir, no sudeste do país, foram registrados confrontos na manhã deste domingo à margem das eleições: uma pessoa morreu e 12 ficaram feridas, informou um funcionário à AFP.

Desta vez, ao contrário de 2019, a oposição disputou estas eleições dividida. O partido CHP, a principal legenda opositora, não conseguiu consenso para o nome de Imamoglu em Istambul, nem em outras partes do país.

O partido pró-curdo Dem se apresentou sozinho, o que favoreceu o partido no poder, ameaçado pela pressão do partido islamista Yeniden Refah.

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