Milhares de opositores bielorrussos participaram de uma manifestação em Minsk convocada pela adversária do presidente Alexander Lukashenko nas eleições de 9 de agosto.

Os apoiadores da candidata Svetlana Tijanovskaia, 37 anos, se reuniram em um parque na capital, no maior ato da oposição na última década. Segundo a organização de defesa dos direitos humanos Viasna, cerca de 34.000 pessoas participaram.

Um dia antes, o governo acusou dois opositores presos, Sergey Tijanovski e Mikola Statkevitch, e o grupo militar privado Wagner, simpatizante da Rússia, de incentivar “grandes distúrbios” no país poucos dias após as eleições.

“Soube que eles acusaram Sergei (Tijanovski) de preparar distúrbios. Você não afeta o destino de um homem, mas de todos os presos políticos do país”, disse Tijanovskaia, dirigindo-se às autoridades, diante de milhares de apoiadores, a maioria jovens.

Cerca de 32 “combatentes” russos apresentados como membros do Grupo Wagner, além de uma outra pessoa, foram presos perto de Minsk na quarta-feira.

“Ninguém vai acreditar que esses combatentes foram enviados para as eleições. O que eles buscavam aqui, uma revolução? Que revolução? Queremos liberdade”, acrescentou a candidata da oposição, referindo-se aos mercenários russos detidos, observando que a situação, qualificada pelos opositores como encenação, “é terrível”.

A Rússia e Belarus, historicamente aliados, mantém relações tensas desde o final de 2019, quando o presidente Lukashenko passou a acusar Moscou de querer fazer de Belarus um vassalo além de interferência nas eleições presidenciais de 9 de agosto, acusações que o Kremlin nega.

Segundo as autoridades bielorrussas, esses homens queriam organizar “tumultos em massa” e agiam ao lado dos dois opositores presos.

Statkevitch e Tijanovski, que tentaram apresentar suas candidaturas para as eleições presidenciais, estão na prisão desde o final de maio.

Segundo Andrei Ravkov, secretário de Estado do Conselho de Segurança de Belarus, os 33 homens presos na quarta-feira fazem parte de um grupo de 200 pessoas. “Estamos procurando outras pessoas, é como procurar uma agulha no palheiro”, disse ele.

A Rússia negou que esteja tentando desestabilizar o país. O Ministério das Relações Exteriores de Belarus anunciou nesta quinta-feira que convocou o embaixador russo para explicar os “objetivos (…) deste grupo organizado de pessoas, algumas das quais com experiência em conflitos armados”.

O grupo Wagner tem sido frequentemente acusado de enviar mercenários para o exterior (Ucrânia, Síria, Líbia, República Centro-Africana) em conflitos nos quais Moscou não desejaria ser oficialmente vinculada.

As autoridades bielorrussas acreditam que o objetivo dos suspeitos é desestabilizar o país no contexto das eleições presidenciais.

Lukashenko, 65 anos, acredita que a Rússia, seu grande aliado há 26 anos, atualmente apoia seus oponentes.

O presidente de Belarus, que concorre ao sexto mandato, enfrenta uma forte mobilização da oposição, apesar da repressão dos protestos e da prisão de vários de seus opositores.

Ravkov indicou que os candidatos presidenciais foram informados de possíveis ameaças aos eventos públicos que organizam.

– A campanha eleitoral continua –

Svetlana Tijanovskaia já havia descartado o cancelamento de seus comícios, que atraíram multidões até agora nunca vistas em Belarus.

“Todos os nossos atos ocorrerão, no entanto, as medidas de segurança serão aumentadas”, disse ela após uma reunião na comissão eleitoral, enfatizando que “a responsabilidade de garantir a segurança é do Estado”.

Tijanovskaia substitui seu marido, um blogueiro preso em maio, com popularidade em ascensão. Contra as expectativas, a candidatura se tornou um fenômeno.

A candidata se juntou a Maria Kolesnikova, ex-gerente de campanha de outro opositor preso, e Veronika Tsepkalo, esposa de um terceiro oponente ao regime, exilado na Rússia.

Para o diretor do Centro de Pesquisa Estratégica e Política Externa, Arseni Sivitsky, Moscou tentaria impor mais “lealdade” a Minsk “depois que Lukashenko rejeitou o plano de aprofundar a integração [de ambos os países], acusando o Kremlin de querer anexar Belarus”.