MOSCOU E ROMA, 16 JUL (ANSA) – A oposição protestou nesta terça-feira (16) na Câmara dos Deputados para pressionar o ministro do Interior e vice-premier da Itália, Matteo Salvini, a prestar esclarecimentos sobre supostas negociações entre seu partido, a ultranacionalista Liga, e representantes russos.   

O caso estourou na semana passada, quando o site BuzzFeed revelou que um ex-porta-voz de Salvini, Gianluca Savoini, falara abertamente com dois cidadãos russos sobre um repasse milionário para a Liga.   

A conversa ocorreu no Hotel Metropol, em Moscou, em outubro de 2018, durante uma visita oficial do ministro do Interior ao país. No diálogo, Savoini e dois russos discutem a criação de um fundo de US$ 65 milhões a ser usado pela Liga nas eleições europeias de maio passado, com recursos obtidos da venda de petróleo para a estatal italiana ENI.   

Não se sabe, no entanto, se a negociação chegou a ser concluída.   

Salvini diz que seu partido nunca recebeu dinheiro da Rússia, e o Kremlin afirmou à ANSA que jamais ofereceu suporte financeiro a legendas políticas na Itália. A oposição, por sua vez, tenta aumentar a pressão sobre Salvini e obrigá-lo a comparecer ao Parlamento para esclarecer as negociações conduzidas por Savoini. Até o momento, no entanto, o ministro não se ofereceu para ir à Câmara, a não ser em sua sabatina quinzenal, na qual ele fala sobre todos os assuntos.   

“A escolha do ministro humilha o Parlamento”, disse o líder do centro-esquerdista Partido Democrático (PD) na Câmara, Graziano Delrio, após uma reunião com todas as legendas com assento no Parlamento.   

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Já no Senado, membros do PD apresentaram um projeto para instituir uma comissão parlamentar de inquérito “sobre as tratativas entre expoentes do partido Liga e pessoas de nacionalidade russa, a fim de obter financiamentos para a campanha das eleições europeias”.   

“Não é prerrogativa de um ministro subtrair-se à vontade de um Parlamento que pede para escutá-lo”, afirmou o líder do PD e governador do Lazio, Nicola Zingaretti. Os apelos da oposição encontraram eco até no antissistema Movimento 5 Estrelas (M5S), aliado da Liga no governo.   

“Na minha visão, o vice-primeiro-ministro deve ir ao Parlamento explicar a questão da Rússia”, disse o também vice-premier Luigi Di Maio, líder do M5S. Savoini já foi interrogado pelo Ministério Público de Milão, que o investiga por “corrupção internacional”, mas não respondeu a nenhuma pergunta.   

Antigo militante de extrema direita e membro da Liga desde 1991, quando o partido defendia a autonomia de parte do norte da Itália, Savoini se tornou porta-voz de Salvini em 2013, após sua eleição como secretário federal da legenda ultranacionalista.   

Ele exerceu a função por cerca de dois anos, mas depois continuou como conselheiro do atual ministro do Interior, especialmente para questões ligadas à Rússia. Savoini é tido como artífice do acordo de colaboração entre a Liga e o Rússia Unida, partido do presidente Vladimir Putin, assinado em 2017.   

O ex-porta-voz também esteve em um jantar de gala oferecido a Putin em Roma, em 4 de julho passado, evento que teve as presenças de Salvini e Di Maio. Savoini se defende afirmando que as acusações contra ele são um “ataque político” ao ministro do Interior e que nunca houve repasse russo para a Liga. (ANSA)


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