Quase 100 parlamentares já assinaram o requerimento que pede a abertura de uma Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) na Câmara para investigar eventuais crimes cometidos pelo ministro do Meio Ambiente, Ricardo Salles, desde que ele assumiu o cargo, em 2019.

A decisão de pedir a abertura de uma CPI foi tomada por deputados da oposição após o ex-superintendente da Polícia Federal do Amazonas, Alexandre Saraiva, ter prestado depoimento na Casa sobre denúncias que fez contra Salles, acusado de participar de um esquema de corte ilegal de madeira na Amazônia.

Na edição desta semana, ISTOÉ revelou com exclusividade detalhes da investigação capitaneada pela PF e pelo Ministério Público Federal e que colocam o ministro do Meio Ambiente na berlinda. A PF e o MPF apuram uma suposta relação existente entre Salles, uma família de grileiros do Pará e a Rondobel, suspeita de realizar extração irregular de madeira.

Para que seja criada, a CPI precisa ter adesão de, pelo menos, 171 parlamentares. Até a publicação desta reportagem, o requerimento já contava com o apoio de 97 deputados. Líderes da oposição afirmam que a reportagem vai acelerar a coleta de assinaturas e ajudar a conseguir apoio até mesmo de deputados considerados de centro.

“A oposição tem hoje 130 deputados e nós precisamos colher 171 assinaturas para criar a CPI. Precisamos da adesão dos deputados do centro e a reportagem é muito importante para fazermos essa pressão e instalarmos o quanto antes a CPI. Estamos correndo contra o tempo para deter a devastação”, afirmou Marcelo Freixo (PSOL-RJ), líder da minoria na Câmara.

Em paralelo a isso, um escritório de advocacia de São Paulo protocolou nesta sexta-feira (30) uma petição no Supremo Tribunal Federal (STF) em que pede que a Procuradoria-Geral da República se manifeste sobre as denúncias de que Salles praticaria advocacia administrativa.

Nesta semana, a ministra do STF, Cármen Lúcia, encaminhou a notícia-crime feita por Saraiva para a PGR. Ao enviar os documentos, a ministra disse que se tratavam de fatos de “gravidade incontestável”.

“Os fatos narrados pela notícia-crime da
Polícia Federal são mero novo capítulo do mesmo modus operandi de advocacia administrativa e de enriquecimento ilícito em paralelo, com milhões de reais operados em paralelo à advocacia de bastidores”, escreveu a advogada Cibele Berenice de Amorim na petição.

Na quinta-feira (29), Salles usou as redes sociais para desmentir a reportagem, sem, no entanto, apresentar argumentos.”Essa matéria patética na capa superou a cafajestagem. Não tenho nada a ver com nenhum madeireiro, de lugar nenhum. Nosso compromisso é com lei e a verdade sem radicalismos e perseguições. Matéria não diz nada com nada. Ridículo”, escreveu no Twitter.

Em entrevista a rádio Jovem Pan nesta sexta, o ministro do Meio Ambiente voltou a criticar os apontamentos feitos pelas investigações da PF. Afirmou que a notícia-crime apresentada pelo ex-superintendente da PF do Amazonas, Alexandre Saraiva, é uma “história vergonhosa” e tem como objetivo “criar fatos que não existem”. Disse também que Saraiva tenta atingir também atingir Bolsonaro.

“Essas acusações do delegado são uma tentativa ridícula de criar algum fato para me atingir e com isso atingir o presidente da República. Só que como eu não não devo nada e não fiz nada errado, tenho absoluta consciência daquilo que fiz e faço como ministro do Meio Ambiente, posso olhar na cara das pessoas como estou aqui e dizer o que eu quiser. Não devo nada para vagabundo nenhum”, afirmou.