Os partidos de oposição em Honduras pediram formalmente a revisão do resultado eleitoral de 26 de novembro, alegando que o pleito foi “fraudulento”, em um novo capítulo da crise política que mergulhou o país no caos.

Na sexta-feira à noite, a esquerdista Aliança da Oposição contra a Ditadura denunciou ao Tribunal Supremo Eleitoral (TSE) que houve “alteração intencional das atas de apuração” para assegurar a vitória do presidente Juan Orlando Hernández.

“Eles (os juízes do TSE) sabem que esse processo é completamente falido. É um processo onde há roubo de todos os lados”, assegurou o candidato da Aliança à Presidência, o apresentador de televisão Salvador Nasralla, após entregar o recurso junto com o advogado e diretor de campanha do partido, Marlon Ochoa.

– Resultado em dúvida –

O primeiro relatório do TSE deu uma vantagem de cinco pontos para Nasralla, com 57% dos votos, mas o sistema de computação dos votos sofreu alterações intermitentes. Após sua normalização, o presidente Hernández, do Partido Nacional (PN, direita), estava na liderança com uma diferença de 1,6%.

O adiamento do anúncio dos resultados incentivou as denúncias de fraude.

A oposição e o PN levaram seus partidários às ruas para reivindicar a vitória, em manifestações que deflagraram confrontos violentos com as autoridades.

Divulgado no México, na sexta-feira (8), um relatório da Anistia Internacional apontou que pelo menos 14 pessoas morreram nos protestos. Já as autoridades hondurenhas confirmaram apenas três mortos: uma jovem e dois policiais.

“Compareço a este tribunal para interpor uma ação de nulidade da votação e dos resultados da apuração das 18.103 seções eleitorais”, segundo o documento apresentado por Ochoa.

Ochoa explicou à AFP que “a lei contempla que se possa solicitar a anulação da votação, apuração, contagem e registro dos votos, e estamos adequando a solicitação à lei”.

Ele disse ainda que, provavelmente, o TSE vai indeferir o recurso e que o partido pretende apelar para instâncias internacionais.

Segundo Ochoa, se fizerem uma contagem geral dos votos, “Nasralla sairá ganhando, porque não há crime perfeito”, em referência à suposta fraude.

Nas cifras do TSE, Hernández aparece com 42,98% dos votos, e Nasralla, com 41,38%.

– Recontagem sem opositores –

Para calar os protestos, o TSE começou, na quinta-feira, a recontar os votos que entraram no sistema durante as interrupções. O processo deve terminar na próxima segunda (11).

Ochoa alega que essa recontagem do TSE não é aceita pela Aliança, que não tem representantes no processo.

O juiz suplente do TSE, Marco Ramiro Lobo, disse à AFP que a recontagem estava incompleta. Após o primeiro relatório, ele havia declarado que a vitória de Nasralla era “irreversível”.

Lobo indicou que o ideal seria contar os votos e revisar os cadernos onde estão as assinaturas dos eleitores, para ver se o número de votos coincide com o número de assinaturas, mas isso não está sendo feito.

O Partido Liberal (PL, direita), terceira força com 14% dos votos, apresentou um recurso de anulação por “violação da Constituição e da lei eleitoral”.

O advogado do partido, Octavio Pineda, disse à imprensa que Hernández é um “candidato ilegal”, porque a Sala Constitucional lhe permitiu a reeleição, proibida na Carta Magna.