A oposição venezuelana garante que fará, nesta quarta-feira (19), sua maior manifestação contra o governo de Nicolás Maduro, que prometeu responder com uma mobilização em massa de seus correligionários, o que deflagrou temores de novos episódios de violência.

Fortalecido pelos militares, que na segunda-feira confirmaram sua “lealdade absoluta”, Maduro vai encarar o sexto protesto da oposição este mês, que reivindica eleições gerais e respeito à autonomia do Parlamento.

Nesta terça, o presidente da Casa, Julio Borges, pediu às Forças Armadas, aliada-chave de Maduro com enorme poder político e econômico, que sejam “leais” à Constituição e que permitam a realização de uma manifestação pacífica.

Os protestos anteriores terminaram em duros confrontos entre as forças policiais e os manifestantes. Cinco pessoas morreram, dezenas ficaram feridas, e mais de 200 foram detidas.

Na escadaria da sede legislativa, Borges pediu aos soldados que digam não à “rebelião, ou golpe de Estado”, mas que “parem os abusos”, “a perseguição” e “a repressão”.

Maioria na Câmara, a oposição aprovou um acordo para rejeitar “a continuação e o agravamento de um golpe de Estado cometido por Nicolás Maduro e pelos órgãos judiciais”, além do que chamaram de “violações” aos direitos humanos.

A presença de militares hoje nas ruas de Caracas era a usual.

Os organizadores do ato de amanhã estabeleceram 26 pontos de saída para a manifestação que pretende chegar à Defensoria do Povo, no centro de Caracas, reduto chavista. Aliados do governo já anteciparam que, como sempre, não vão deixar que entrem nessa área.

“Toda Caracas será tomada pelas forças revolucionárias, e não nos perturbem”, advertiu Diosdado Cabello, um dos mais poderosos líderes do chavismo.

Referindo-se à “mãe das marchas”, o vice-presidente do Parlamento, Freddy Guevara, convocou os membros e simpatizantes da oposição a “transbordar as ruas para dizer a Maduro que não permitiremos uma ditadura”.

– Tensão no limite –

O governo alega que a oposição promove o “terrorismo” e a violência nas marchas para levar a um golpe de Estado. Já seus adversários acusam as autoridades de repressão e de torturar os presos.

O secretário-geral da Organização dos Estados Americanos (OEA), Luis Almagro, advertiu que “as recentes ações do regime (chavista) de distribuir armas entre civis e animá-los ao confronto constitui uma ação repressiva homicida que incita à violência”.

“As manifestações pacíficas são um instrumento de paz, democracia e liberdade. Por isto, amanhã, dia 19 de abril, os direitos do povo (…) devem prevalecer sobre qualquer lógica de política repressiva”, declarou Almagro.

Na segunda-feira, em um ato militar, Maduro anunciou que o corpo de milícia, criado por lei há sete anos, chegará a 500.000 civis, cada um com seu fuzil. Segundo o presidente, trata-se de se preparar para uma eventual “intervenção estrangeira”.

Nesse mesmo evento, ao apoiar Maduro e acusar a oposição de seguir uma “agenda criminosa” com ajuda do exterior, o ministro da Defesa, general Vladimir Padrino López, alegou que restabelecer a ordem pública não é “repressão”.

Onze países latino-americanos pediram à Venezuela que “garanta” o direito à manifestação pacífica e lamentaram as mortes ocorridas nos protestos.

“É vulgar o duplo padrão e a seletividade política desses governos para justificar a violência vandálica da oposição”, reagiu a chanceler Delcy Rodríguez.

Um dia antes das marchas, o presidente da Colômbia, Juan Manuel Santos, manifestou sua “séria preocupação” com “a militarização da sociedade” na Venezuela e pediu “prudência”.

– Eleições, o objetivo –

Os protestos explodiram em 1º de abril, depois que o Tribunal Supremo de Justiça (TSJ) assumiu as funções do Parlamento e suspendeu a imunidade dos deputados.

Embora as sentenças tenham sido anuladas parcialmente após forte pressão internacional, a oposição recuperou o fôlego e o apoio popular perdidos quando o poder eleitoral frustrou, em 2016, sua meta de revogar o mandato de Maduro em um referendo, e eles então aceitaram dialogar com o governo.

Ainda que suas decisões sejam consideradas nulas pelo TSJ, a Assembleia Nacional nomeou nesta terça uma comissão para um processo de remoção de magistrados.

“A oposição está mais unida do que nunca. Essa é uma força relevante e nova. É provável que seja a maior marcha contra o chavismo, mas não podemos prever que impacto terá além das percepções”, opinou o analista Luis Vicente León.

Alguns observadores acreditam em que o governo, para acalmar os ânimos, anunciará em breve uma data para as eleições de governadores. Esse pleito deveria ter acontecido em 2016. A oposição garantiu, porém, que vai parar somente quando atingir todos seus objetivos.

O governo descarta a antecipação da eleição presidencial, mas diz estar ansioso para as disputas de governadores e prefeitos. Hoje, sete em cada dez venezuelanos reprovam a gestão de Maduro. Analistas consideram, assim, que o governo dificilmente venceria uma eleição nessa conjuntura e que estaria apenas tentando ganhar tempo.