A oposição venezuelana conseguiu validar as firmas necessárias para ativar o referendo revogatório do mandato do presidente Nicolás Maduro, revelou nesta sexta-feira seu coordenador de assuntos eleitorais, Vicente Bello.

“O número de assinaturas necessárias foi superado claramente”, disse o porta-voz ao final do processo de validação.

“Estamos falando de mais do dobro. Todos os estados do país estão muito acima do exigido”, disse o líder opositor Henrique Capriles, principal promotor da consulta.

Capriles detalhou que 409.313 pessoas autenticaram suas assinaturas com impressão digital. “O grande perdedor do dia de hoje foi Nicolás Maduro, vamos revogar seu mandato”.

O Poder Eleitoral tem o prazo de 20 dias para confirmar se ativa a consulta.

Capriles assinalou que agora os venezuelanos devem se preparar para reunir cerca de quatro milhões de firmas para que o Conselho Nacional Eleitoral (CNE) convoque o referendo.

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No referendo, para depor Maduro o “sim” deve conquistar mais do que os 7,5 milhões de votos com os quais ele foi eleito.

Mas o CNE deve certificar se a coalizão Mesa da Unidade Democrática (MUD) conseguiu de fato autenticar ao menos 200 mil das 1,3 milhão de assinaturas que arrecadou para ativar o referendo.

A certificação das firmas ocorreu nos 24 estados do país, com a exigência de ao menos 1% de assinaturas do colégio eleitoral em cada estado.

“Neste momento, nos 24 estados do país se tem mais de 1,7%” de firmas, garantiu Bello, acrescentando que em Nueva Esparta, onde ocorreram as maiores dificuldades, a meta foi atingida nesta sexta-feira.

Durante cinco dias, milhares de pessoas validaram, com suas digitais, as assinaturas que deram no fim de abril para apoiar a continuidade da consulta.

“A mudança não será imediata”

Durante a semana, a MUD denunciou uma sabotagem do governo contra o reconhecimento de assinaturas mediante demoras, bloqueio logístico e ameaças veladas de suspensão do trâmite.

Os adversários de Maduro impulsionam o revogatório apoiados na severa crise econômica, que nas últimas semanas aumentou a tensão social com roubos em várias cidades deixando ao menos cinco mortos.

Uma escassez de 80% dos alimentos e a inflação mais alta do mundo (180,9% em 2015), além dos altos índices de criminalidade, motivam a rejeição a Maduro, que, segundo uma pesquisa da empresa Datanálisis, tem apenas 25% de apoio.

“A mudança não será imediata, mas o referendo é um passo”, disse Eugenia Parra, de 28 anos, estudante de Farmácia, enquanto estava na fila para comprar alimentos em um supermercado do leste de Caracas.

Parra não pôde validar sua assinatura, pois teve que dividir seu tempo entre as longas filas para alimentar sua família, os estudos e um trabalho de meio período em uma clínica.


Nos arredores do mesmo supermercado Ramón Bernay, economista aposentado de 64 anos, esperava seu turno e afirmou que “este ano não haverá referendo”.

“Não vão tirar Maduro nem pela OEA, nem por um golpe. Faço filas todos os dias e esta situação me enoja, mas resisto porque o que há aqui é uma guerra econômica da burguesia”, afirmou.

Maduro considera impossível que o revogatório possa ocorrer esse ano, em razão de os prazos legais não permitirem.

Para a oposição é fundamental que a consulta seja realizada antes do dia 10 de janeiro de 2017, pois se Maduro for revogado antes desse dia, haverá eleições antecipadas.

Se ocorrer depois dessa data, o mandatário socialista poderá eleger seu sucessor em caso de derrota.

“Se houver, iremos e ganharemos; e se não houver, a vida política do país continuará”, sustentou o governante na quinta-feira (23).

A crise venezuelana foi discutida na quinta-feira pelo Conselho Permanente da Organização dos Estados Americanos (OEA), em uma sessão especial que concluiu sem decisões sobre castigar diplomaticamente o governo chavista.

Invocando a Carta Democrática, o secretário-geral da OEA, Luis Almagro, disse que a Venezuela vive “uma grave alteração da ordem constitucional” e democrática, e chamou os países-membros a apoiarem o referendo.

Em meio à tensão interna e às pressões internacionais, Maduro multiplicou nos últimos dias o seu chamado à oposição para iniciar um diálogo, mas ela assegura que o revogatório não é negociável.

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