Oitenta anos após a Conferência de Wannsee, resolução faz justiça à realidade atual, na qual a negação do Holocausto se espalha como erva daninha nas redes sociais, opina a jornalista Lisa Hänel.A resolução da ONU adotada nesta quinta-feira (20/01) em Nova York pode certamente ser considerada histórica: somente uma vez as Nações Unidas aprovaram uma resolução iniciada por Israel — em 2005, quando a ONU designou o 27 de janeiro, data da libertação do campo de concentração de Auschwitz, como o Dia Internacional da Memória do Holocausto.

Desde então, a ONU tem sido repetidamente criticada porque nenhum outro país-membro está sujeito a tantas resoluções condenatórias quanto Israel. Mais do que a Síria, a Coreia do Norte e o Irã juntos.

Tanto mais surpreendente, portanto, que a Assembleia Geral adote uma resolução, apresentada em conjunto por Israel e Alemanha — outro sinal histórico e simbólico —, que contenha palavras claras contra a negação e a relativização do Holocausto.

Logo não haverá mais sobreviventes

O ponto central é que a resolução e os oradores da Assembleia Geral não olham apenas para o passado, mas também para o presente e para o futuro. Uma das frases mais impactantes da resolução diz: “Ignorar os fatos históricos desses terríveis eventos aumenta o risco de que eles se repitam”. Isso vai ao cerne do problema na era digital, em que prosperam notícias falsas, mentiras e relativização.

A resolução faz assim justiça à realidade do século 21. Uma realidade que previsivelmente terá que passar sem os sobreviventes do Holocausto; uma realidade na qual a negação da Shoah no Facebook cresce como uma erva daninha, e os jovens têm cada vez menos conhecimento sobre o genocídio dos judeus da Europa. Assim, a resolução convida os Estados-membros da ONU a desenvolverem programas educacionais e recomenda a definição de antissemitismo da Aliança Internacional de Memória do Holocausto (IHRA) para esse fim.

Isso também é surpreendente. A definição da IHRA tem sido criticada repetidas vezes, sobretudo por representantes da cultura e das artes, com o argumento de que ela permite muito poucas críticas a Israel. Isso fez com que a luta contra o antissemitismo — especialmente contra o que atinge diretamente Israel — fosse tornada quase impossível também por causa do uso de uma definição enfraquecida de antissemitismo. O compromisso de 114 Estados-membros da ONU com a IHRA deverá fortalecer a definição e, portanto, também a luta contra o antissemitismo.

Desafios do presente

A resolução chega num momento altamente simbólico: na data da Conferência de Wannsee, onde o caráter sistemático e deliberado do genocídio dos judeus europeus fica comprovado. É um sinal poderoso que, 80 anos após esse evento, nações de todo o mundo se comprometam não apenas a reconhecer esse crime e a respeitar os que foram assassinados, como também a enfrentar ativamente todos os desafios dos dias atuais para evitar que algo semelhante volte a acontecer.

Um desses desafios atuais se manifestou no próprio debate: o Irã foi o único país da comunidade internacional a explicitar por que não concorda com a iniciativa lançada por Israel e pela Alemanha. Assim, a resolução também deve ser um chamado às próprias Nações Unidas para que apontem os limites aos países-membros onde o antissemitismo é prescrito pelo Estado.

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Lisa Hänel é jornalista da DW. O texto reflete a opinião pessoal do autor, não necessariamente da DW.