Opinião: influenciadores vão recalcular a rota após denúncia e engajamento de Felca

Denúncia do youtuber expõe fragilidade na imagem de influenciadores e aponta para uma mudança de postura no mercado digital

Felca, youtuber
Felca, youtuber Foto: Reprodução/Instagram

A denúncia exposta pelo youtuber Felipe Bressanim Pereira, de 27 anos, conhecido como Felca, sobre a sexualização precoce de crianças e adolescentes na internet — intitulada “Adultização” — acendeu um alerta vermelho no universo dos influenciadores digitais.

Com duração de cerca de 50 minutos, a produção denuncia a criação e divulgação de conteúdos envolvendo menores e aponta o influenciador Hytalo Santos como alguém que estaria lucrando com a exposição de adolescentes. O material viralizou rapidamente, ultrapassando 40 milhões de visualizações e gerando inúmeros cortes, comentários e análises de internautas e outros criadores de conteúdo.

O episódio, que ganhou grande repercussão nas redes sociais, evidenciou um ponto sensível do mercado: a linha tênue entre engajamento e credibilidade.

Com um público cada vez mais atento a incoerências e posturas duvidosas, figuras públicas que dependem da internet para manter relevância e parcerias comerciais começam a perceber que a “curtida fácil” já não é garantia de sucesso. O engajamento massivo que Felca conquistou ao se posicionar demonstra que transparência e autenticidade têm, hoje, mais valor do que campanhas publicitárias bem produzidas.

A lógica do “postar para não ser esquecido” dá sinais de desgaste. Denúncias como a feita por Felca funcionam como um termômetro para o público e um freio para influenciadores que ignoram a responsabilidade social que carregam. O que antes era visto como mera “opinião” de internet agora pode ter impacto direto na reputação e no faturamento.

Se antes recalcular a rota era uma estratégia para driblar o algoritmo, agora significa rever valores, conduta e discurso. A era da influência sem consequência está, aos poucos, chegando ao fim — e talvez este seja o começo de um cenário mais ético e maduro para o marketing de influência.

O caso Hytalo Santos

O influenciador Hytalo Santos já estava sob investigação do Ministério Público da Paraíba (MPPB) desde 2024. A repercussão do vídeo de Felca reacendeu as discussões sobre segurança digital e a responsabilidade das redes sociais na prevenção de crimes contra menores, justamente no ano em que o Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA) completa 35 anos.

Após as denúncias, o Instagram desativou tanto a conta de Hytalo, que possuía cerca de 17 milhões de seguidores, quanto a de Kamylinha, adolescente de 17 anos ligada ao grupo “Turma do Hylato”. Ela é peça central nas acusações: aos 16 anos, foi emancipada, realizou implantes de silicone e, em maio deste ano, anunciou estar grávida do irmão mais novo de Hytalo, Hyago Santos. Poucos dias depois, divulgou ter sofrido um aborto espontâneo.

O caso segue em apuração pelo MPPB e já há movimentações para que seja debatido na Câmara dos Deputados. De acordo com o jornal O Globo, oito projetos de lei sobre exploração de menores na internet foram protocolados desde que o vídeo viralizou.

Hytalo Santos é apenas a ponta do iceberg, diz deputadoHytalo Santos (influenciador)

A prisão de Hytalo

Na manhã desta sexta-feira, 15, Hytalo Santos e seu marido, Israel Nata Vicente, foram presos em Carapicuíba, na Grande São Paulo, durante uma operação conjunta das polícias civis da Paraíba e de São Paulo, além da Polícia Rodoviária Federal.

As prisões ocorreram em cumprimento a mandados preventivos expedidos pela Justiça da Paraíba, em resposta a investigações iniciadas em 2024 pelo Ministério Público do Estado da Paraíba (MPPB). As apurações envolvem acusações de exploração sexual infantil e tráfico humano, com foco na utilização de menores em conteúdos digitais com conotação sexual.

Em nota, a defesa de Hytalo Santos informou que não teve acesso ao conteúdo da decisão que ordenou a prisão e que buscará a liberdade do influenciador.

O Ministério Público da Paraíba reforçou seu compromisso com a defesa dos direitos de crianças e adolescentes, destacando a importância de ações efetivas no combate à exploração sexual infantil e ao tráfico humano.

Quem é Felca?

Natural de Londrina (PR) e morando atualmente em São Paulo, Felipe iniciou sua trajetória digital em 2012 como streamer de games. Com o tempo, migrou para os populares vídeos de react, nos quais comenta produções de terceiros ou testa produtos.

Um de seus maiores êxitos foi em maio de 2023, quando um vídeo seu sobre uma base de maquiagem da marca Wepink, da influenciadora Virgínia, ultrapassou 20 milhões de visualizações, consolidando sua relevância na internet. Hoje, Felca acumula mais de 5,4 milhões de inscritos no YouTube e 14,5 milhões de seguidores no Instagram. Antes do vídeo sobre exploração infantil, já havia chamado atenção ao comentar a CPI das Bets.