26/09/2022 - 11:43
Pós-fascistas da Itália triunfaram e são de longe a bancada mais forte no novo Parlamento. O resultado eleitoral inevitavelmente também terá consequências para a coexistência na UE, opina Alexandra von Nahmen."Celebramos com a Itália", dizia um post da Alemanha no Twitter. Um eurodeputado francês escreveu que os italianos deram à União Europeia (UE) uma lição de humildade. Políticos de direita de toda a Europa estão felizes com Giorgia Meloni. A líder do partido nacionalista de direita Irmãos da Itália (FdI) e sua aliança de direita venceram as eleições parlamentares e ela provavelmente estará à frente do futuro governo.
Para a Itália, um dos países fundadores da UE, este é um ponto de inflexão. Desde o fim da Segunda Guerra Mundial, a Itália nunca tivera um Parlamento mais à direita do que o recém-eleito. O partido de Meloni, que tem suas origens no neofascismo, é, de longe, a principal força. Juntamente com a nacionalista de direita Liga, de Matteo Salvini, e a democrata-cristã Força Itália, de Silvio Berlusconi, os Irmãos da Itália têm a maioria absoluta dos votos.
Eleitores frustrados
A guinada para a direita da Itália está relacionada principalmente à situação política do próprio país. Muitos italianos estão descontentes e frustrados com a classe política. Um terço dos que têm direito a voto ficou longe das urnas. Nos últimos quatro anos, o país teve três governos. O partido de Giorgia Meloni não participou de nenhum, o que a beneficiou agora.
Crise de energia, inflação, a percepção de uma perda de controle sobre a imigração, medo do futuro – a carismática política de direita habilmente absorveu e canalizou tudo isso em sua campanha eleitoral. Ela prometeu que trataria dos problemas, e é exatamente isso o que muitos italianos querem ouvir. Eles basicamente desistiram das elites em Roma: a casta política nacional é percebida apenas como um clube de autoenriquecimento.
Mas a UE também é culpada pela situação. Ela é considerado por muitos na Itália como demasiado distante, intransparente, comprometida principalmente com os interesses do capital − um reduto de fórmulas de consenso, distante demais dos problemas reais dos cidadãos de cada país-membro.
Retórica perigosa dos populistas de direita
Foi justamente aqui que entrou a retórica de Giorgia Meloni. Ela insultou a UE como monstro incompetente e burocrático, anunciou que "poria um fim à farra em Bruxelas" e, finalmente, representaria lá os interesses da Itália, com vigor. Segundo ela, não é admissível a lei europeia ter precedência sobre a lei nacional.
Há algum tempo Giorgia Meloni deixou de exigir a saída da Itália da UE ou o abandono do euro como moeda comum. Mas, com suas críticas fundamentais ao bloco, ela se tornará um problema semelhante ao primeiro-ministro húngaro, Viktor Orbán − sempre em conflito com as instituições da UE e desafiando a coesão do bloco.
Ameaça à unidade da UE
Isso pode se tornar um problema no tocante à unidade do Ocidente e da UE em relação ao Kremlin. No momento, Orbán é o único chefe de governo da UE que pede a suspensão das sanções contra a Rússia. A Itália pode agora se tornar o próximo caso problemático.
Pois, mesmo que Giorgia Meloni diga apoiar as sanções e ser solidária com a Ucrânia, seus futuros parceiros no governo são vistos como pouco confiáveis: Silvio Berlusconi, amigo declarado do presidente russo, afirmou recentemente na televisão italiana que Vladimir Putin foi impelido para a guerra. E o líder do Liga, Matteo Salvini, criticou as sanções da UE como medidas que "nos puseram de joelhos".
Cabe questionar quão unida e coesa será a União Europeia em relação à Rússia no futuro, num momento em que isso é mais importante do que nunca. Se um inverno duro e frio agravar a crise energética, isso também fortalecerá os populistas em outros Estados da UE. Na Suécia, 15 dias atrás os nacionalistas de direita Democratas Suecos surgiram como a segunda bancada mais forte nas eleições parlamentares. A vitória de Meloni na Itália fortalece ainda mais o campo dos críticos da UE.
Abordar os problemas do povo
A Itália precisa da UE que ajudou a construir. O país deverá receber 220 bilhões de euros do fundo de reconstrução pós-pandemia − uma verba urgentemente necessária para estabilizar sua economia. A vitória eleitoral dos populistas de direita não muda isso. Mas o exemplo da Hungria mostra como é prejudicial à União Europeia estar exposta aos inimigos em seu cerne.
Acima de tudo, porém, a ascensão de Meloni e companhia. mostra que a UE deve finalmente mostrar mais coragem ao enfrentar os problemas que preocupam a população do bloco.
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Alexandra von Nahmen é jornalista da DW. O texto reflete a opinião pessoal da autora, não necessariamente da DW.