Em abril, mês de conscientização sobre o autismo, o Fantástico, revista eletrônica da Globo, estreou o quadro ‘Pode Perguntar’, com entrevistas feitas por profissionais dentro do espectro autista com personalidades renomadas. O projeto foi originalmente criado pela emissora pública de TV francesa, a France Télévisions, e já foi adotado em mais de dez países.
O programa original chama-se Les rencontres du Papotin, apresentando entrevistas com diversas celebridades — inclusive o atual presidente francês, Emmanuel Macron — e foi inspirado na revista francesa Le Papotin, famosa por suas entrevistas surpreendentes, todas feitas por profissionais autistas.
A estreia do quadro contou com uma entrevista sincera e emotiva com a atriz Vera Fischer, que falou sobre sua infância, seu relacionamento com o pai, a trajetória artística na Boca do Lixo durante a ditadura militar, sua imagem de símbolo sexual e a superação do uso de drogas. Além dela, famosos como Seu Jorge e Luana Piovani também participaram da sabatina.
A importância do quadro
No dia 2 de abril, é celebrado o Dia Mundial da Conscientização do Autismo. A data, criada em 2007 pela Organização das Nações Unidas (ONU), tem como objetivo tornar o tema mais visível, assim como disseminar informações sobre a condição no ambiente social, além de reduzir o preconceito em relação às pessoas com Transtorno do Espectro Autista (TEA).
Segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS), cerca de 70 milhões de pessoas no mundo possuem o distúrbio do neurodesenvolvimento, que afeta a maneira como o indivíduo se relaciona com o mundo ao seu redor.
Nos últimos anos, diversas personalidades do cinema, da música e do ativismo têm revelado diagnósticos tardios do transtorno. O tema tem ganhado mais visibilidade à medida que figuras públicas compartilham suas experiências, ajudando a desmistificar o autismo e a mostrar a diversidade de perfis dentro do espectro.
A exibição em rede nacional do quadro ‘Pode Perguntar’, na TV Globo, uma das maiores emissoras do Brasil, é um incentivo à inclusão das pessoas com transtorno do espectro autista, que são capazes de conviver em sociedade, mesmo com o transtorno do neurodesenvolvimento.
Como diagnosticar autismo?
À IstoÉ Gente, o psicólogo Alexander Bez, especialista em relacionamentos pela Universidade de Miami, em ansiedade e síndrome do pânico pela Universidade da Califórnia, e em saúde mental, explicou tudo sobre o transtorno.
“O Transtorno do Espectro Autista (TEA) é uma condição neurológica que faz parte do desenvolvimento do sistema nervoso da pessoa. Atualmente, no mundo, 75 milhões de pessoas recebem esse diagnóstico, o que o torna uma condição mais comum do que se pensava, presente em uma parcela significativa da população”, inicia o profissional.
“A crescente prevalência do TEA significa que existem mais recursos disponíveis para controlar e tratar a condição, tornando a vida diária dos pacientes mais gerenciável. No entanto, as manifestações dos sintomas podem ocorrer em idades variadas, embora um diagnóstico precoce tenda a melhorar a qualidade de vida do indivíduo.”
Qualquer pessoa pode ser diagnosticada com TEA?
Sim, qualquer pessoa, independentemente da idade, gênero ou origem, pode ser diagnosticada com TEA, desde que apresente as características neurológicas e de desenvolvimento associadas.
É possível receber um diagnóstico de TEA tardiamente?
Sim, é possível. Embora os sintomas geralmente se manifestem antes dos 18 anos, alguns podem surgir mais tarde na vida, muitas vezes devido a estarem latentes e não terem sido reconhecidos ou tratados anteriormente.
Quais são as principais razões para o diagnóstico tardio?
Fatores como experiências traumáticas, conflitos diários e, especialmente, tarefas que sobrecarregam as habilidades da pessoa podem desencadear o aparecimento tardio dos sintomas, uma vez que essas situações podem sobrecarregar o sistema neurológico do indivíduo.
Existem diferentes níveis de gravidade dos sintomas do TEA?
Sim, existem. O TEA pode se manifestar de forma leve, moderada ou severa. Em casos mais leves, os sintomas podem passar despercebidos, tornando o diagnóstico mais desafiador e afetando a qualidade de vida da pessoa de forma não diagnosticada.
No caso de adultos, quais sintomas podem levar a um diagnóstico tardio?
Dificuldade em entender as opiniões e pensamentos dos outros;
Dificuldade em interpretar expressões faciais e corporais;
Dificuldade em regular as próprias emoções;
Dificuldade em manter conversas;
Tendência a comportamentos repetitivos e rotinas fixas;
Resistência à mudança e preferência por rotinas familiares;
Dificuldade em expressar sentimentos (frequentemente mal interpretados como traços de personalidade);
Dificuldade em estabelecer relações sociais.
Como é realizado o diagnóstico em adultos?
O diagnóstico em adultos é baseado na observação dos sintomas apresentados. Isso envolve avaliações neurológicas, psiquiátricas e psicológicas, além da coleta de informações sobre o histórico genético, familiar e do desenvolvimento infantil durante a anamnese.
Como é tratado o TEA?
O tratamento para o autismo visa melhorar a qualidade de vida do paciente, minimizando suas dificuldades e maximizando suas habilidades. Ele envolve intervenções, terapias e psicoterapias adaptadas ao nível do espectro em que a pessoa se encontra. O objetivo é tornar a pessoa mais funcional e reduzir seu sofrimento, com a possibilidade de uso de medicações ansiolíticas ou antipsicóticas, se necessário.