RIO DE JANEIRO (Reuters) – Pelo menos 18 pessoas morreram durante uma grande operação policial em um complexo de favelas no Rio de Janeiro nesta quinta-feira, informou a polícia em comunicado, no mais recente conflito violento entre policiais e suspeitos em áreas com presença do tráfico de drogas na cidade.

Equipes da Polícia Civil e da Polícia Militar entraram no Complexo do Alemão numa operação para desarticular uma suposta organização criminosa suspeita de envolvimento em roubo de cargas e agências bancárias que estava planejando uma incursão a comunidades rivais, segundo comunicado das polícias.

Cerca de 400 policiais participaram da operação, com o apoio de quatro helicópteros e 10 veículos blindados, segundo a polícia. Pelo menos 18 pessoas morreram, sendo 16 suspeitos, um policial e uma moradora, acrescentou.

“Foram apreendidos um fuzil metralhador .50, que foi utilizado para tentar derrubar as aeronaves durante as ações, quatro fuzis cal. 7.62, duas pistolas e 56 artefatos explosivos que seriam empregados contra as equipes”, afirmou a polícia.

A Defensoria Pública do Estado disse que “há indícios de situações de grave violação de direitos” durante a operação, que foi uma das mais violentas da polícia fluminense.

A polícia regularmente realiza operações com mortes nas favelas do Rio de Janeiro. O presidente Jair Bolsonaro (PL), pré-candidato à reeleição, há muito tempo defende que a polícia utilize táticas agressivas na luta contra o crime organizado, dizendo que bandidos têm que morrer.

Em sua live semanal nas redes sociais, Bolsonaro lamentou a morte do policial durante a operação desta quinta, mas não mencionou os demais mortos.

Após a operação, moradores foram vistos colocando pessoas feridas na traseira de veículos que se dirigiam a um hospital, enquanto a polícia observava. Gilberto Santiago Lopes, da Comissão de Direitos Humanos da Associação Nacional da Advocacia Crimina (Anacrim), disse que a polícia se recusou a ajudar.

“Os policias não estão socorrendo os feridos, não socorrem, teve que trazer eles num carrinho de bebida, depois parar o carro de um morador para levar até o hospital. O argumento é que eles são bandidos, não merecem o socorro necessário. É a condição de não humano”, disse Lopes.

A polícia se recusou a fazer comentários sobre as alegações.

Moradores locais estavam furiosos e gritavam contra a polícia.

“A gente sente medo de morar aqui dentro, a gente está onde, no Afeganistão, numa guerra, no Iraque?”, disse um deles.

(Reportagem de Ricardo Moraes e Sérgio Queiroz; Reportagem adicional de Gabriel Stargardter e Pedro Fonseca)

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