A Petrobras iniciou o corte em seu programa de patrocínio cultural com a retirada de verbas de sete projetos das áreas audiovisual, três de música e um de teatro. Ao todo, a empresa deixou de renovar 11 iniciativas que “historicamente contaram com patrocínio”. Outros dois, na mesma condição, já não tinham sido contemplados em anos anteriores: os festivais de teatro Porto Alegre em Cena e o Festival de Curitiba.

Na lista dos projetos que não foram renovados estão algumas das mostras de cinema mais tradicionais do Brasil: Festival do Rio, Mostra de Cinema de SP, AnimaMundi, Festival de Cinema de Brasília, Festival de Cinema de Vitória, Sessão Vitrine e CineArte (SP). Na música, saem da lista de beneficiados o Prêmio da Música Brasileira, realizado há 30 anos no Rio de Janeiro, o Clube do Choro, uma das principais casas de música de Brasília, e a Casa do Choro, no Rio de Janeiro. As artes cênicas perdem o patrocínio do Teatro Poeira, no Rio.

Essas são as primeiras medidas desde que a empresa decidiu rever o seu programa de patrocínio, neste ano. Como antecipou o Estadão/Broadcast, no início de fevereiro, a empresa avalia romper contratos firmados nos governos anteriores, principalmente com grandes grupos de teatro e cinema. Na nova gestão, o foco passará a ser em educação na primeira infância, ciência e tecnologia.

“A Petrobras segue realizando apoio a projetos culturais. O orçamento para patrocínios, assim como diversas outras áreas, sofreu redução à luz do Plano de Resiliência divulgado no dia 8/3/19. Por essa razão, tivemos projetos nas áreas de audiovisual e artes cênicas já concluídos, que não foram renovados. Os contratos vigentes estão em andamento e com seus desembolsos em dia”, afirmou a empresa em nota oficial, acrescentando que a intenção é readequar seu orçamento e alinhar o apoio cultural ao seu posicionamento de marca. Até então, a ideia era ter o seu nome associado aos artistas brasileiros reconhecidos pela excelência em suas áreas.

A notícia de revisão do programa de patrocínio da Petrobras motivou dois deputados federais do PSOL – Áurea Carolina e Ivan Valente – a questionar a estatal. Em documento oficial, a empresa respondeu aos parlamentares. No texto, diz que o “orçamento de 2019 está dimensionado para honrar contratos vigentes e projetos oriundos da chamada pública de música cujos resultados serão divulgados”. Um edital aberto no final do ano passado deve contemplar com R$ 10 milhões no total 19 músicos de 2 mil inscritos. A divulgação dos vencedores já foi adiada por duas vezes.

A empresa afirma ainda que utiliza três autores para repensar seu novo programa de patrocínio, que ainda está em estudo – Heckman, Rolnick e Grunewald. Não informa, porém, as razões de os três autores terem sido escolhidos. Os três são economistas norte-americanos que têm estudos na área de educação. James Heckman recebeu o Prêmio Nobel de Ciências Econômicas em 2000 e defende que investir na infância é mais eficaz do que distribuir renda. Rob Grunewald e Arthur Rolnick assinam artigos sobre os benefícios da educação na primeira infância para o desenvolvimento.

O empresário José Maurício Machline conta que tudo estava acertado para que seu Prêmio da Música Brasileira seguisse com o patrocínio. “Eles afirmaram que, de todos os patrocinados, o Prêmio era o que mais dava retorno para a marca. Pediram então um projeto ainda maior de circulação e eu fiz, mas agora veio essa decisão.” Ele afirma que já está no mercado para conseguir captar verba via Lei Rouanet para fazer a próxima edição da festa. “Já tenho aprovação para esse projeto.” Se não tivesse, seria certamente impedido, desta vez, pelas mudanças na Lei Rouanet prestes a serem anunciadas pelo governo federal, que vai baixar o teto por projeto, de R$ 60 milhões para R$ 1 milhão.

BNDES

O Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) gastará em patrocínios culturais neste ano R$ 5 milhões. O valor do orçamento é três vezes inferior ao de 2017, quando o banco de fomento investiu R$ 15,5 milhões com esse fim. Em 2018, foram gastos R$ 8,1 milhões. O orçamento de 2019 é 38% inferior ao do ano passado.

Em nota, a assessoria de imprensa explicou que a queda no orçamento para patrocínio cultural se deve à queda na receita operacional bruta. “Qualquer alteração no regulamento de patrocínio é de alçada do Conselho de Administração do BNDES”, diz a nota enviada pelo BNDES. O banco informou ainda que dará prioridade, neste ano, aos projetos ligados à literatura.

As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.