O Brasil está montando uma verdadeira operação de guerra para garantir que a compra de equipamentos médicos da China chegará ao País para abastecer os hospitais que já sofrem com a sua falta. Não é para menos: máscaras faciais, respiradores e equipamentos de proteção individual (EPIs) são cobiçados por governos de todo o mundo graças à escassez provocada pela alta demanda internacional. Essa crise levou o governo brasileiro a montar uma verdadeira logística sofisticada para garantir que suas encomendas cheguem a com segurança ao País. O Ministério da Saúde comprou 960 toneladas de máscaras da China e o desafio agora é fazê-las chegar aqui. Serão necessários 40 voos para trazer os produtos ao Brasil, para depois distribuí-los entre os municípios brasileiros a um custo estimado em R$ 100 milhões. O Ministério de Infraestrutura, responsável por essa logística, procura parceiros para custear o frete dos EPIs. A empresa Lojas Americanas é um deles e financiará os dois primeiros transportes, de 15 milhões de máscaras. No próximo dia 19, duas aeronaves Boeing 777 da Latam sairão de Guangzhou, na China, farão uma parada técnica em Doha, no Catar, e chegarão até o dia 21 no Aeroporto Internacional de Guarulhos, em São Paulo.

REDE Sem aviões militares de grande alcance, o governo brasileiro conta com empresas privadas para conseguir importar as mercadorias (Crédito:Divulgação)

Pirataria na saúde

O plano do governo brasileiro é classificar essas operações como “voos de Estado”, ou seja, a aeronave passa a ser praticamente uma embaixada do País em território estrangeiro, sem riscos de interferência de outros países e com prioridade de pouso e decolagem. A estratégia enfrenta um problema: a dependência dos voos civis, uma vez que os aviões da Força Aérea Brasileira não têm capacidade de percorrer distâncias tão longas. “Os países estão vivendo suas escolhas do passado, não se pode criar nada da noite para o dia em uma situação com essa dimensão. Falta investimento em transporte estratégico”, diz Eduardo Marson, que atua há mais de 15 anos no setor de aviação e presidiu o Grupo Airbus no Brasil.

Divulgação

A segurança jurídica dos contratos de compra feitos pelo Brasil também está sendo analisada com cautela. Especialistas chamam a atenção para a necessidade de o termo de venda ser adequado à nova realidade de disputa entre os países. Existem modalidades de comércio internacional que asseguram que a carga pertence a seu comprador a partir do momento em que ela sai da fábrica, o que evitaria uma eventual mudança de destinatário. O cumprimento dessa regra jurídica, no entanto, vai depender desse novo cenário cada vez mais imprevisível.

Todo esse esquema especial foi justificado pelo risco de que os produtos comprados no exterior fossem desviados. No começo do mês, o Consórcio do Nordeste, representado pelo governo da Bahia, adquiriu 600 respiradores de uma empresa chinesa em um contrato no valor de R$ 42 milhões. A carga ficou retida no aeroporto de Miami, nos EUA, porque o vendedor cancelou unilateralmente o acordo. Outros casos como esse têm sido comuns inclusive em países da União Europeia, em um novo tipo de guerra comercial na qual vence aquele com maior poder econômico. Um verdadeira “pirataria moderna”.

 

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