CIÊNCIA Pesquisadores das universidades de Virgínia (à esq.) e Columbia (acima), referências em todo mundo, avisaram: cloroquina para coronavírus é sinal de perigo (Crédito:Divulgação)

Além da cloroquina e de sua versão mais branda, a hidroxicloroquina, não apresentarem a menor comprovação científica contra o coronavírus, esse medicamento que Jair Bolsonaro e o ministro interino da Saúde, general Eduardo Pazuello, querem empurrar garganta abaixo dos brasileiros, tem efeitos colaterais perigosíssimos. São eles: convulsão, confusão mental, taquicardia, comprometimento hepático, arritmia, parada cardíaca, lesão muscular, vaso dilatação, hipotensão, manifestações na pele, visão dupla, cegueira e embranquecimento capilar. E morte. A lista parece não ter fim e cada um dos malefícios citados são comprovados por médicos, pesquisadores e cientistas. Claro que Bolsonaro acha que sabe muito mais que todos eles juntos. Quanto a Pazuello, como general ele é um excelente recruta: obedece cegamente as ordens do capitão.

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Jogando no lixo toda e qualquer contraindicação, a dupla capitão-recruta assinou na quarta-feira 20 um falso protocolo (eles chamam de protocolo), no qual recomendam o uso de cloroquina e hidroxicloroquina, em duas tomadas de 400 mg ao dia, para pessoas que estiverem no estágio inicial da infecção. Por que o protocolo não pode levar esse nome? Simplesmente porque não tem assinatura de nenhum responsável da área médica do ministério (denunciado isso, soltaram uma segunda edição assinada). Acredite se quiser, mas o texto que recomenda tal substância é apócrifo. Para sorte dos brasileiros, legalmente nenhum médico é obrigado a seguir a dupla charlatã — e, caso o profissional da saúde queira prescrevê-lo, é imprescindível a anuência do paciente. O equivocado “protocolo” chegaria a ser ridículo não fosse um perigoso caminho para o falecimento por arritmia cardíaca — de seu trecho final consta que não há comprovação científica. Ele próprio se anula. Como já se disse, Bolsonaro tem de ser preso. E com uma agravante do tamanho de sua perversidade: segundo o ex-ministro Luiz Henrique Mandetta, Bolsonaro chegou a pedir que fosse alterada a bula (alteração de bula!!!) da medicação no Brasil, introduzindo que poderia ser indicada à Covid-19.

A ciência, diferentemente de Bolsonaro, é séria. E não lida com achismos. Estudos das universidades americanas da Carolina do Sul e da Virgínia, dois templos mundiais de pesquisas, comprovaram um aumento considerável na letalidade de infectados que trataram a doença com cloroquina ou hidroxicloroquina: 27,8% dos 368 pacientes avaliados, internados em 170 hospitais, morreram após tomarem tais remédios. Já aqueles que o combinaram com antibióticos, a percentagem de letalidade foi de 22,1 %. O índice de óbitos entre enfermos que não fizeram esse tratamento é muito mais baixo: 11,4%. De acordo com a Universidade de Álvaro, em Coimbra, uma das mais conceituadas do planeta, a mortalidade daqueles que usaram cloroquina no tratamento do coronavírus foi 3,6% maior se cotejada com o número de falecimentos entre os que não se valeram do medicamento. Ou seja, uma pessoa infectada, mas que o coronavírus não apresentava risco algum, pode ocupar os leitos hospitalares após o uso indevido da cloroquina e do hidroxicloroquina. Pode morrer! A Universidade de Columbia, excelência no campo da pesquisa científica, também comprovou o aumento de casos de parada cardíaca nos pacientes.

E as tradicionais universidades de Harvard e Oxford vão na mesma linha de conclusões. Seja em sua versão mais concentrada (cloroquina) ou menos saturada (hidroxicloroquina), a sua indevida utilização prolonga a chamada “ativação do sistema elétrico do corpo humano”, responsável por nos manter de pé. E vivos. Quando essas “fases elétricas” que ativam o coração são prolongadas ocorre um alto risco de arritmia e parada cardíaca. “A ampliação da prescrição vai matar mais gente em casa”, alertou Mandetta. Unidas, as sociedades brasileiras de Infectologia, de Medicina Intensiva e de Pneumologia, redigiram um manifesto: “a indicação vai na contramão de todos os estudos da comunidade científica”. Mais de quatrocentas entidades criticam o presidente.

“Ciência e política: duas vocações”, de autoria de Max Weber, um dos fundadores da Sociologia, é uma obra que Bolsonaro poderia tentar ler, embora seja provável que ele não conseguiria entendê-la em uma palavra sequer. Por que? Porque burrice e más intenções, essas sim, são uma única profissão na cabeça do presidente. Vale frisar, aqui, que alguém que tenta criminosamente alterar a bula de uma medicação, como afirmou Mandetta a respeito do mandatário, é criminoso. Tal qual a cloroquina, Bolsonaro é contraindicado à vida!