O Brasil experimentou um pouquinho de desenvolvimento, mas parece não ter gostado. Tudo faz crer que tomou uma firme decisão de regredir. Não chegamos a nos parecer com a Venezuela, mas, pelo andar da carruagem, vamos acabar nos transformando numa Argentina.

É certo que não conseguimos um fanfarrão do calibre do Tenente-General Juan Domingo Perón, mas isso é um detalhe. O fato que melhor comprova a hipótese acima exposta é a desidratação do chamado “centro”. Centro, terceira via, escolha você, caro leitor, o nome que preferir. Somos, com certeza, o único País do mundo que logrou a proeza de arranjar trinta e três partidos políticos e não consegue um candidato capaz de se contrapor ao espectro da polarização, vale dizer, à repetição da loucura Bolsonaro versus PT (agora com Lula).

Mas a coisa não para aí. Em Brasília — isso uma breve espiada nos jornais evidencia — tem um monte de gente empenhada em tirar Bolsonaro do páreo. Tirar, quero dizer, mediante artifícios jurídicos e imputações de ilícitos de toda ordem. Nenhum indivíduo na plena posse de suas faculdades mentais duvida de que ilícitos existem em abundância. A começar pela persistente sabotagem que o ocupante do Planalto perpetrou contra os agentes de saúde que combatem na linha de frente contra a pandemia. Mas isso já está no preço.

Nenhum indivíduo na plena posse de suas faculdades mentais duvida de que ilícitos existem em abundância para tirar Bolsonaro do Planalto

O que não se tem observado é que o clima de turbulência alimentado por Bolsonaro mantém o dólar alto, que empurra para cima a inflação e realimenta a turbulência de que Bolsonaro precisa para criar mais turbulência e mobilizar seus fanáticos. Nesse quadro, surge a genial ideia de convocar Lula primeiro e único, o imbatível, para o papel de pacificador. Transformando-o no estadista que ele nunca foi e não tem condições de ser, rearmamos a polarização e, eureka! Operamos o milagre de devolver Bolsonaro a seu habitat natural e reabrir a larga avenida que haverá de nos levar ao crescimento sustentável.
Em nossa hilária América Latina, os exemplos são Perón, que voltou da Espanha de braço dado com Isabelita. Morto Perón, ela se pôs sob a orientação de Lopez Rega, El Brujo, uma versão portenha de Rasputin.

O outro é Getúlio Vargas, cuja volta em 1950 acirrou até o limite a radicalização política do País. Lula, se tivesse juízo, deveria se convencer de que já fez todo o bem (e todo o mal) que podia fazer pelo Brasil e tirar de vez as férias a que ele há tempo faz jus. Com Bolsonaro X PT, o Brasil não corre o risco de dar certo.