A Organização Pan-americana da Saúde vê uma “tendência preocupante” na transmissão de COVID-19 em áreas fronteiriças do continente americano e Caribe, atual epicentro da pandemia, disse sua diretora, Carissa Etienne, nesta terça-feira (16).

“Embora a maioria dos casos na região seja relatada nas grandes cidades, onde a desigualdade econômica e a densidade populacional estimulam a transmissão, nossos dados mostram uma tendência preocupante em direção à alta transmissão nas áreas fronteiriças”, destacou em coletiva de imprensa.

Etienne mencionou em particular “um pico” nas áreas limítrofes entre Haiti e República Dominicana; Costa Rica e Nicarágua; Guiana Francesa e Brasil; Guiana, Suriname e Brasil; assim como a região amazônica, onde se encontram as margens da Venezuela, Brasil e Colômbia, e a área fronteiriça entre Peru, Brasil e Colômbia.

Com mais de 81.000 mortes e quase 1,7 milhões de casos, a América Latina tornou-se o epicentro da pandemia de coronavírus, declarada em março pela Organização Mundial da Saúde (OMS), da qual a Opas é um escritório regional.

“O Brasil possui 23% de todos os casos e 21% de todas as mortes em nossa região. E não estamos vendo a transmissão diminuir. O mesmo ocorre em quase todos os países da América Latina e alguns do Caribe estão aumentando”, apontou Etienne.

Acrescentou que as áreas de fronteira onde os casos dispararam já abrigavam populações vulneráveis em termos de assistência médica antes da explosão da COVID-19.

A falta de infraestrutura de saúde na maioria das cidades limítrofes, com capacidade hospitalar e laboratorial reduzidas, e os problemas de acesso afetaram grupos indígenas, comunidades em áreas remotas, migrantes e pessoas que se deslocam com frequência entre países por razões familiares e de trabalho.

Mas agora a pandemia “acentua essas vulnerabilidades e o aumento da transmissão nessas áreas é motivo de grande preocupação e ação imediata”, disse Etienne, insistindo na necessidade “mais do que nunca” de trabalho conjunto e cooperação regional.

Nesse sentido, disse que a Opas facilitou as comunicações bilaterais entre Venezuela e seus vizinhos na cidade colombiana de Letícia, e entre o estado de Roraima e as regiões adjacentes da Venezuela e Guiana.

Além disso, a Opas trabalha com agências da ONU ao longo da fronteira entre Haiti e República Dominicana, uma área de particular preocupação, segundo Etienne.

“Continuamos atentos à evolução da situação nesta fronteira em particular”, disse, alertando que “é preciso uma coalizão muito mais ampla para enfrentar uma possível crise de saúde” no Haiti.