O Exército de Israel intensificou os seus bombardeios e a sua ofensiva terrestre na Faixa de Gaza, onde a ONU alertou que a situação é “cada vez mais desesperadora” e a “ordem pública” está em colapso após saques nos seus centros devido à limitada ajuda humanitária que chega ao enclave.

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“A situação em Gaza se torna cada vez mais desesperadora, de hora em hora. Lamento que em vez de uma pausa humanitária cruelmente necessária (…) Israel tenha intensificado as suas operações militares”, disse neste domingo (29) o secretário-geral da ONU, António Guterres.

No sábado, o primeiro-ministro de Israel, Benjamin Netanyahu, anunciou o início de uma “segunda fase” da guerra contra o movimento islamista Hamas no enclave palestino, que será “longa e difícil”.

O Exército de Israel, cujos soldados e tanques operam no terreno desde sexta-feira à noite, anunciou no domingo que aumentou o seu efetivo e as operações terrestres na Faixa de Gaza.

O Exército continua a intensificar os seus bombardeios no enclave de 362 km2, em resposta ao ataque sangrento sem precedentes realizado pelo Hamas em 7 de outubro em Israel.

Cerca de 1.400 pessoas, a maioria civis, morreram Israel no ataque e outras 230 foram sequestradas pelo grupo palestino, segundo as autoridades israelenses.

Por outro lado, o Ministério da Saúde do Hamas, que controla Gaza desde 2007, afirmou neste domingo que mais de 8.000 pessoas morreram na Faixa devido à guerra, “metade delas crianças”.

Entrada de caminhões de ajuda

Desde 9 de outubro, Israel impôs um “cerco total” ao território palestino onde vivem 2,4 milhões de pessoas, interrompendo o fornecimento de água, alimentos e eletricidade.

A agência da ONU para os refugiados palestinos (UNRWA) indicou neste domingo que milhares de pessoas saquearam seus centros de distribuição, “um sinal preocupante de que a ordem pública está começando a desmoronar” na Faixa.

Neste domingo, dez caminhões com ajuda humanitária entraram vindos do Egito, elevando para 94 o número de veículos deste tipo que chegaram ao enclave desde 21 de outubro, segundo o Crescente Vermelho palestino.

Em Rafah, os moradores ainda lutavam para conseguir pão neste domingo. “Estamos na fila desde as 5h30. (…) Não temos certeza” se conseguiremos alguma coisa, disse Aisha Ibrahim, uma pessoa deslocada do norte de Gaza.

“No solo e no subsolo”

O Exército de Israel indicou que os seus aviões, “guiados por tropas (no terreno), atingiram (neste domingo) estruturas militares do Hamas no norte da Faixa de Gaza” e que foram disparados foguetes do território palestino em direção ao centro e ao sul de Israel.

Dois soldados israelenses ficaram feridos durante a noite, um deles em combates com membros do Hamas, segundo o Exército.

Netanyahu declarou no sábado que o Exército israelense irá “destruir o inimigo no solo e no subsolo”, referindo-se às centenas de quilômetros de túneis a partir dos quais o Hamas conduz suas operações, segundo Israel.

O objetivo desta “segunda fase da guerra” é “claro: destruir as capacidades militares e a liderança do Hamas e trazer os reféns para casa”, disse ele.

O conselheiro de segurança nacional da Casa Branca, Jake Sullivan, afirmou que “o governo israelense deveria tomar todas as medidas ao seu dispor para distinguir entre o Hamas – terroristas que são alvos militares legítimos – e civis que não o são”.

“As famílias não dormem”

O líder israelense reuniu-se no sábado com os familiares de reféns do Hamas, cada vez mais insatisfeitos com a “completa incerteza”, disse Haim Rubinstein, seu porta-voz. “As famílias não dormem, querem respostas”, acrescentou.

Quatro mulheres foram libertadas até agora. O Hamas afirmou que “cerca de 50” reféns morreram por bombardeios israelenses.

O líder do movimento islamista em Gaza, Yahya Sinwar, declarou no sábado que estava disposto a estabelecer “imediatamente uma troca para libertar todos os prisioneiros das prisões do inimigo sionista em troca de todos os reféns”.

O Exército israelense instou os civis palestinos a “se mudarem temporariamente” para o sul, “para uma área mais segura onde poderão receber água, alimentos e medicamentos”.

Comunicação restabelecida

A intensificação dos bombardeios na Faixa de Gaza coincidiu com uma interrupção das comunicações e da Internet, o que complica ainda mais os esforços de ajuda humanitária. Mas a rede estava sendo restaurada neste domingo, segundo a organização de monitoramento de rede Netblocks.

O território palestino também enfrenta uma escassez de medicamentos. Algumas operações cirúrgicas são realizadas sem que os pacientes estejam completamente sedados, devido à falta de produtos anestésicos, alertou Médicos Sem Fronteiras (MSF) no sábado.

Segundo o Ministério da Saúde do Hamas, 12 hospitais não funcionam mais na Faixa.

O presidente iraniano, Ebrahim Raisi, cujo país apoia o Hamas, declarou neste domingo que Israel cruzou as “linhas vermelhas” ao intensificar sua ofensiva.

Uma das áreas sensíveis é a fronteira entre Israel e o Líbano. Neste domingo, houve novas trocas de disparos entre o Exército israelense e o grupo Hezbollah.

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