A ONU afirmou que uma ofensiva militar israelense em Rafah, no sul de Gaza, seria o equivalente a uma “sentença de morte” para seus programas de ajuda humanitária no território palestino, onde Israel combate o movimento islamista Hamas.

O Exército israelense apresentou nesta segunda-feira (26) “um plano para evacuar civis de áreas de combate na Faixa de Gaza, juntamente com um plano operacional”, segundo o escritório do primeiro-ministro Benjamin Netanyahu.

Pouco depois, o secretário-geral da ONU, António Guterres, advertiu que a anunciada ofensiva israelense contra Rafah “não só seria aterrorizante para mais de um milhão de civis palestinos refugiados lá, mas também seria a sentença de morte para nossos programas de ajuda”.

Rafah, no extremo sul da Faixa, ao lado da fronteira fechada do Egito, é o único ponto de entrada da ajuda humanitária, que continua sendo “totalmente insuficiente” para a população do território, insistiu o alto funcionário de Genebra.

Grande parte da comunidade internacional, incluindo os Estados Unidos, principal aliado de Israel, tenta dissuadir Netanyahu de entrar nesta cidade, onde, segundo a ONU, quase 1,5 milhão de palestinos, quase todos deslocados, estão amontoados.

Mas o premiê israelense defende sua operação terrestre no que ele considera ser o “último bastião” do movimento islamista, que governa Gaza desde 2007.

“Tem que ser feito porque a vitória total é nosso objetivo e a vitória total está ao nosso alcance”, insistiu Netanyahu no domingo em uma entrevista à rede americana CBS, quatro meses após o início da guerra.

– Há ‘lugar’ no norte –

O Exército israelense não deu detalhes sobre seu plano para “evacuar” os civis das zonas onde os confrontos se intensificam, mas Netanyahu garantiu na véspera que havia “lugar” para eles “no norte de Rafah, nas zonas onde terminamos os combates”.

Um correspondente da AFP informou que bombardeios noturnos aconteceram em Rafah e Khan Yunis, no sul, assim como em Zeitun, no norte do território.

O Exército afirmou que descobriu um túnel de dez quilômetros entre Zeitun e o centro de Gaza, onde encontrou instalações para armazenar armas e “corpos de terroristas”.

A guerra começou em 7 de outubro, quando milicianos islamistas assassinaram 1.160 pessoas, a maioria civis, no sul de Israel, segundo um balanço da AFP baseado em números divulgados pelas autoridades israelenses. Também sequestraram 250 pessoas, das quais 130 continuam em cativeiro.

Israel prometeu “aniquilar” o Hamas e iniciou uma campanha militar contra a Faixa de Gaza que deixou 29.782 mortos, a maioria mulheres e menores de idade, segundo o Ministério da Saúde do movimento islamista.

Na Cisjordânia ocupada, onde a violência aumentou de maneira expressiva desde 7 de outubro, o governo da Autoridade Palestina apresentou sua renúncia ao presidente Mahmud Abbas, criticado por sua “impotência” diante dos bombardeios israelenses na Faixa e o agravamento da situação no território que controla.

Abbas, que exerce um poder limitada sobre este território ocupado por Israel desde 1967, aceitou a demissão, em um contexto de pressões crescentes para reformar a liderança política palestina antes do “pós-guerra” de Gaza.

– ‘Vamos morrer de fome’ –

A situação na Faixa de Gaza piora a cada dia e 2,2 milhões de pessoas, a grande maioria da população, enfrenta uma “fome em larga escala”, segundo a ONU.

Os bombardeios não param e a ajuda humanitária entra a conta-gotas pelo posto de Rafah, onde depende da aprovação de Israel, que impôs um cerco total ao território.

As ONGs Anistia Internacional e Human Rights Watch acusaram Israel de intensificar os bloqueios de ajuda humanitária, ignorando o pedido da Corte Internacional de Justiça (CIJ) para que medidas para evitar um genocídio fossem tomadas.

“Vamos morrer de fome”, disse Abdullah al Aqra, 40 anos, refugiado no oeste da cidade de Gaza, depois de fugir Beit Lahia, ao norte.

A Jordânia informou que realizou quatro lançamentos aéreos com ajuda e alimentos para Gaza.

No campo diplomático, representantes de Egito, Catar, Estados Unidos e Israel, além do Hamas, retomaram no domingo, em Doha, negociações para uma trégua, que serão sucedidas por “reuniões no Cairo”, segundo o canal de notícias AlQahera News, próximo aos serviços de inteligência egípcios.

O conselheiro de Segurança Nacional da Casa Branca, Jake Sullivan, afirmou que os representantes de Israel, Estados Unidos, Egito e Catar, que se reuniram em Paris, “chegaram a um entendimento” sobre quais deveriam ser “os contornos básicos” de um acordo sobre reféns para “um cessar-fogo temporário”.

De acordo com uma fonte do Hamas, classificado como “terrorista” por EUA, Israel e União Europeia, o plano inclui uma trégua de seis semanas e uma troca de 200 a 300 prisioneiros palestinos por 35 a 40 reféns, assim como a entrada de grande quantidade de ajuda humanitária.

A guerra também aumentou a tensão na fronteira entre Israel e Líbano, cenário de trocas de disparos diárias entre o Exército israelense e o movimento pró-Irã Hezbollah, aliado do Hamas. Nesta segunda-feira, as tropas de Israel bombardearam alvos do grupo xiita no leste do país, muito distante da fronteira.

O Hezbollah respondeu lançando 60 foguetes contra uma base militar israelense no planalto ocupado de Golã.

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