A ONU pediu à Grécia nesta quarta-feira que acelere os procedimentos de pedido de refúgio em Lesbos para que milhares de migrantes desabrigados desde o incêndio que devastou o gigantesco campo de Moria na semana passada possam deixar a ilha.

“A ideia não é que essas pessoas fiquem na ilha de Lesbos para sempre”, disse Philippe Leclerc, representante da Agência das Nações Unidas para Refugiados (ACNUR) na Grécia, nesta quarta-feira.

“O ACNUR apela às autoridades (gregas) para que acelerem os processos (de pedido de asilo) para que as pessoas não fiquem muito tempo aqui e (…) possam, progressivamente e silenciosamente, deixar a ilha e ir para Atenas, ou se instalar em outro lugar”, acrescentou.

O ministro grego da Proteção Civil, Michalis Chrysochoidis, estimou que metade dos migrantes de Lesbos poderão sair da ilha “entre agora e o Natal” e o resto “perto da Páscoa”, ou seja, no início de abril.

Moria, o maior campo de migrantes da Europa, foi criado há cinco anos, em meio à crise migratória, e foi destruído por um incêndio, aparentemente causado propositalmente, na noite de 8 para 9 de setembro.

Viviam mais de 12.000 migrantes que fugiram da violência e da miséria de países como Afeganistão, Síria, Irã ou República Democrática do Congo. A maioria deles está agora a céu aberto, dormindo nas estradas e vagando sem rumo pela ilha.

Seis jovens afegãos, incluindo dois menores de idade suspeitos de estarem relacionados ao incêndio em Moria e presos na segunda-feira, comparecerão ao tribunal e serão acusados nesta quarta-feira, de acordo com autoridades locais.

Nenhum dos seis suspeitos tem mais de 20 anos, segundo essas fontes.

Nesta quarta-feira, 13 migrantes foram detidos em Samos, outra ilha grega, suspeitos de terem causado um incêndio que pode ter se espalhado para outro campo de refugiados que abriga 4.700 pessoas.

– “Solução de emergência” –

Em Lesbos, em frente à entrada de um novo acampamento urgentemente construído pelas autoridades gregas para acomodar cerca de 8.000 pessoas, Leclerc “encorajou” as pessoas que viviam em Moria a “virem”.

“Porque é aqui que os procedimentos vão continuar, onde podem ser encontradas soluções e onde as pessoas vão poder sair da ilha”, disse.

No entanto, grande parte dos 12.000 migrantes se recusam a se estabelecer neste novo campo por medo de ficarem bloqueados por muito tempo. “Isso vai levar tempo”, advertiu Leclerc.

“Pedimos a todos, refugiados, comunidades locais e autoridades, que sejam pacientes e eficazes”, disse.

Respondendo a uma pergunta sobre se este campo se tornará um segundo Moria, o funcionário do ACNUR respondeu: “Espero que as autoridades não cometam os erros do passado”.

“Esta é uma solução emergencial e deve continuar a ser”, insistiu.

– “Não somos animais” –

Por enquanto, apenas o governo alemão, pressionado pela opinião pública, anunciou que aceitaria 1.500 migrantes que estão atualmente na Grécia.

Dezenas de outros menores desacompanhados também serão transferidos para países europeus.

“Por favor, abram as portas. Nós somos seres humanos, não somos animais”, disse uma afegã de 21 anos que mora em Lesbos.

As crianças “são muito, muito importantes para o futuro. Por favor, ajude-as”, acrescentou.

“Precisamos da Europa para nos ajudar a sair daqui”, implorou Ange, uma congolesa de 23 anos que chegou a Lesbos há um ano.

“Desde terça-feira vivemos assim. Se fossem seus filhos, vocês aceitariam essas condições?”, questionou a migrante.

A presidente da Comissão Europeia, Ursula von der Leyen, pediu nesta quarta-feira aos países do bloco que “intensifiquem seus esforços” em matéria de migração e afirmou que “toda a Europa deve fazer a sua parte” e atuar em conjunto diante do drama dos refugiados do campo de Moria.

“As imagens do campo de Moria nos lembram dolorosamente que a Europa deve agir em conjunto”, disse.

“A migração é um desafio europeu e toda a Europa deve fazer a sua parte”, acrescentou.