Países reclamam de altos preços de acomodação durante a Conferência do Clima. A menos de três meses do evento, Brasil afirma que 47 países têm hospedagem e confirmaram presença; já a ONU cita número menor.Faltando menos de três meses para a COP30 e em meio às queixas da comunidade internacional sobre o alto preço das hospedagens em Belém, a ONU fez um apelo ao Brasil para que ajude a cobrir parte dos valores, sobretudo no caso de países menos desenvolvidos e insulares.
Atualmente esses países dispõem de uma ajuda de custo no valor de 144 dólares (cerca de R$ 780 pelo câmbio atual) para hospedagem e alimentação, pagos pela ONU. Mas essa diária está muito abaixo da cobrada pelas hospedagens mais baratas listadas na plataforma do governo.
Pela proposta da ONU, o subsídio do governo brasileiro cobriria a diferença para que o custo com acomodação não passe dos 100 dólares por noite.
O Brasil, contudo, recusou a proposta. Segundo a secretária executiva da Casa Civil, Miriam Belchior, o governo já arca com custos significativos para a realização da COP. "Por isso, não há como arcar com subsídio para delegações de outros países", disse ela ao portal g1.
O assunto foi discutido em reunião nesta sexta-feira (22/08). Na ocasião, o Brasil prestou esclarecimentos sobre as atuais condições de hospedagem para a 30ª Conferência do Clima e os pedidos feitos pelos países.
Segundo a secretaria do evento, 47 dos 196 países previstos têm hospedagem e confirmaram presença na capital paraense. Nas contas da própria ONU, porém, esse número seria menor, de 18 países. A informação foi divulgada pelo jornal Folha de S.Paulo, que cita documentos da UNFCCC, o braço climático da ONU. Um desses documentos teria sido enviado ao Brasil no dia anterior à reunião, na quinta-feira (21/08).
A secretaria especial da COP30 atribui a discrepância nos dados a informações desatualizadas por parte da ONU.
Brasil pede à ONU que aumente subsídio
Embora o Brasil tenha rejeitado a sugestão da ONU de subsidiar as hospedagens de delegações internacionais em Belém com dinheiro público, o governo afirma que busca outras alternativas e anunciou a criação de uma força-tarefa para resolver a crise de hospedagem.
Uma das propostas, que é encampada por países africanos e insulares e tem o apoio do Brasil, é que a ONU reconsidere a ajuda de custo paga às delegações internacionais. Em cidades como São Paulo ou Rio de Janeiro, esse valor seria de cerca de 250 dólares – ainda assim, distante dos preços ofertados em Belém.
"Reafirmamos nosso apoio para que a ONU use como o auxílio que eles dão para os países mais pobres o mesmo valor que eles dão em outras cidades brasileiras. Se [a COP] fosse mudar a cidade-sede, eles iam ter que aumentar", disse Belchior à Folha.
A ONU, contudo, alega que o pedido não é simples de ser atendido por razões burocráticas.
Dos 47 países confirmados pela organização da COP30, 39 teriam conseguido hospedagens pela plataforma criada pelo governo federal. Outros oito países fecharam acordos diretamente com hotéis: Egito, Espanha, Portugal, República Democrática do Congo, Singapura, Arábia Saudita, Japão e Noruega.
A crise de hospedagem em Belém tem dominado os debates na reta final do evento e ofuscado até mesmo as negociações climáticas.
O problema, que já se desenhava pelo menos desde o início do ano, assumiu uma dimensão maior em julho, após a divulgação de uma carta em que países se queixavam ao Brasil dos altos preços cobrados e sugeriam que o evento fosse ao menos parcialmente realizado em outro lugar.
A organização da COP30, contudo, descarta tirar o evento de Belém e afirma não ter plano B. O governo quer ampliar a capacidade de acomodação com navios cruzeiros e imóveis particulares oferecidos por imobiliárias e plataformas como Airbnb e Booking.com.
Ao portal g1, o secretário extraordinário da COP30, Valter Correia, disse que a ONU havia solicitado 24 mil quartos individuais e que a quantidade disponível é superior, de 33 mil. "O nosso problema é trazer isso a valores compatíveis com o poder aquisitivo", afirmou.
ra (Agência Brasil, ots)