O Conselho de Segurança da ONU pediu nesta quarta-feira a Mianmar que adote “passos imediatos” para acabar com a “violência excessiva” no oeste do país contra a minoria rohingya, que foge em massa para Bangladesh.

Em Rangum, a dirigente de fato, Aung San Suu Kyi, abordará a crise dos rohingyas na próxima semana em um discurso televisionado a todo o país, em plena emergência humanitária que provocou a fuga de cerca de 380.000 pessoas dessa minoria muçulmana.

Em uma reunião a portas fechadas sobre a situação, o Conselho de Segurança destacou a necessidade de que os rohingyas tenham acesso à ajuda humanitária.

Os 15 membros do Conselho “pediram ao governo birmanês que sustente os seus compromissos de proporcionar a ajuda humanitária no estado de Rakhine”, de acordo com uma declaração lida pelo presidente de turno do órgão, o embaixador etíope Tekeda Alemu.

Segundo cifras da ONU divulgadas nesta quarta-feira, mais de 379.000 rohingyas se refugiaram em Bangladesh desde o final de agosto para fugir da repressão do Exército birmanês depois de serem registrados ataques atribuídos aos rebeldes rohingyas. Cerca de 60% desses refugiados são crianças.

Antes da declaração, o secretário-geral da ONU, António Guterres, exortou Mianmar a interromper as operações militares contra os rohingyas, considerando que as autoridades realizam uma limpeza étnica.

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“Exorto às autoridades de Mianmar que suspendam as atividades militares e a violência, e que faça com que a lei seja respeitada”, disse Guterres à imprensa. “Quando um terço da população de rohingyas precisa fugir do país, você poderia encontrar uma palavra melhor para descrever” a situação?, respondeu o funcionário à pergunta de um jornalista.

Aung San Suu Kyi, ex-dissidente e vencedora do Prêmio Nobel da Paz, é duramente criticada pela comunidade internacional por sua posição ambígua sobre a situação desta minoria muçulmana em Mianmar. Diante da Assembleia Geral da ONU, a outrora ícone da democracia prometeu no ano passado que defenderia os direitos da minoria muçulmana.

Pressionada para se expressar a nível internacional, mas tentando manter um frágil equilíbrio em suas relações com o poderoso Exército birmanês, Suu Kyi fará um pronunciamento na televisão em 19 de setembro sobre a situação em Rakhine, anunciou o seu porta-voz Zaw Htay.

– Crise humanitária –

A ONU estima que os rohingyas sejam vítimas de uma “limpeza étnica de manual” em Rakhine.

Em seu único comentário sobre a situação, a chefe de governo anunciou um “iceberg de desinformação” sobre os rohingyas e defendeu a ação militar.

Além disso, o porta-voz do governo afirmou nesta quarta-feira que 176 das 541 aldeias rohingyas ficaram completamente desertas depois que “o povo inteiro fugiu” e acrescentou que outras localidades estavam parcialmente vazias ou intactas.

Os refugiados chegam a Bangladesh esgotados, desamparados, após dias de caminhada sob a chuva e colocam suas vidas em risco.

Em um hospital do distrito bengalês de Cox’s Bazar visitado por uma equipe da AFP, uma das salas estava lotada de refugiados rohingyas feridos, a maioria por tiros, mas alguns também por explosões de minas terrestres.

Os gemidos de dor de um adolescente de 15 anos que perdeu as duas pernas romperam o silêncio ensurdecedor do local. Os médicos não acreditavam que teria muito tempo de vida.

A poucos quilômetros do local, os campos de refugiados viraram um grande lamaçal após as fortes chuvas. No rio Naf, fronteira natural entre os dois países, as autoridades de Bangladesh encontraram corpos de refugiados mortos em sua fuga.


– Pedido de ação –

Em uma carta aberta ao Conselho de Segurança, vários vencedores do Prêmio Nobel fizeram um apelo às Nações Unidas para que adotem “ações corajosas e decisivas” para resolver a crise em Rakhine.

“Pedimos que atuem de forma imediata para acabar com os ataques militares cegos contra civis inocentes”, indica o texto, assinado entre outros pelo bengalês Muhamad Yunus, a paquistanesa Malala Yousafzai e o sul-africano Desmond Tutu.

O primeiro-ministro do Canadá, Justin Trudeau, expressou suas “profundas preocupações” com esta situação durante uma conversa por telefone com Suu Kyi, a quem pediu que “acabe com a violência” e assegure “a proteção de civis”.

“Esperamos que o Conselho de Segurança proponha decisões substanciais, especialmente um embargo sobre as armas”, declarou Phil Robertson, da organização Human Rights Watch.

Os rohingyas são tratados como estrangeiros em Mianmar, país onde mais de 90% da população é budista, e são considerados apátridas, apesar da presença de algumas famílias há várias gerações no país.


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