Inúmeros crimes de guerra, incluindo crimes contra a humanidade, foram cometidos na província de Idlib, a última fortaleza insurgente no noroeste da Síria, sujeita a uma ofensiva do governo de Bashar al-Assad entre o final de 2019 e início de 2020 – aponta um relatório divulgado pela ONU nesta terça-feira (7).

“Crianças foram bombardeadas na escola, pais foram bombardeados no mercado, pacientes foram bombardeados no hospital, e famílias inteiras foram bombardeadas enquanto fugiam”, resumiu o presidente da Comissão de Inquérito da ONU sobre a Síria, o brasileiro Paulo Pinheiro.

Seu relatório abrange o período de 1º de novembro de 2019 a 30 de abril de 2020 e documenta 52 ataques, com base em quase 300 entrevistas e material fotográfico e de vídeo.

Com o apoio de seu aliado russo, o governo sírio relançou em dezembro de 2019 sua ofensiva contra Idlib, o último reduto nas mãos de grupos rebeldes e jihadistas, antes da entrada em vigor de uma trégua precária patrocinada pela Rússia e pela Turquia a partir de março.

A ofensiva deixou um milhão de deslocados e mais de 500 civis mortos, segundo a ONU.

“Durante esta campanha militar, as forças pró-governo e grupos designados pela ONU como terroristas violaram grosseiramente as leis da guerra e os direitos dos civis sírios”, disse Pinheiro, citado no relatório.

Segundo a Comissão liderada por Pinheiro, entre 1º de novembro e 30 de abril, 25 instalações médicas, 58 escolas e 14 mercados foram bombardeados, na esmagadora maioria dos casos pelas forças pró-governo e seu aliado russo. Ao menos 676 civis morreram.

Alguns desses “bombardeios indiscriminados”, principalmente em Maaret al-Noomane, na província de Idlib, e em Atarib (oeste de Aleppo), em dezembro e fevereiro, “podem constituir um crime contra a humanidade”, segundo o relatório.

A Comissão também denuncia as atrocidades cometidas pelo principal grupo extremista da região, o Hayat Tahrir al-Sham (HTS), acusado de “saques, detenções, torturas e execuções de civis, incluindo jornalistas”.

O HTS também “bombardeou indiscriminadamente áreas densamente povoadas, semeando terror entre civis que vivem em áreas controladas pelo governo”, aponta o relatório.

“As mulheres, homens e crianças que entrevistamos tinham a opção de serem bombardeados, ou fugirem para áreas controladas pelo HTS, onde os direitos humanos são violados e onde a assistência humanitária é muito limitada”, de acordo com a investigadora Karen Koning AbuZayd.