As emissões de todos os gases de efeito estufa precisam diminuir 42% até 2030 para que haja 50% de chances de atingir o limite estabelecido pelo Acordo de Paris de elevação de 1,5 ºC em relação aos níveis pré-industriais. Isto significa uma redução dos atuais 57,4 bilhões de toneladas de CO2 para 33 bilhões de toneladas de CO2.

É o que diz o Relatório Anual de Lacuna de Emissões 2023, divulgado nesta segunda-feira (20/11) pelo Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente (Pnuma) da ONU. Segundo o relatório, todos os países teriam de fazer muito mais, já que as medidas que tomaram até agora não foram suficientes e conduzirão a um aquecimento global de 2,5 ºC a 2,9 ºC até ao final do século.

“Nenhuma pessoa ou economia do planeta é poupada das alterações climáticas. Devemos, portanto, parar de estabelecer recordes indesejáveis ​​em termos de emissões de gases de efeito estufa, temperaturas globais máximas e condições climáticas extremas”, disse Inger Anderson, chefe do Pnuma, durante o lançamento do estudo.

Redução de queima de combustíveis fósseis

Entre as principais causas do aquecimento global estão a queima de carvão, petróleo e gás. Por volta de 1850, a concentração de CO2 na atmosfera ainda era de 288 ppm (partes por milhão), mas devido à industrialização aumentou agora para 422 ppm. Como resultado, a temperatura média global já aumentou 1,2 ºC. Na verdade, 2023 foi o ano mais quente da Terra em mais de 150 anos.

De acordo com o relatório, para cumprir os objetivos climáticos, as emissões de CO2, assim como de metano e óxido nitroso, devem agora ser reduzidas “em 42%, a fim de se avançar no caminho certo rumo ao 1,5 ºC. É uma grande tarefa que temos pela frente”, disse à DW a principal autora do relatório, a economista climática Anne Olhoff.

​Pouco esforço climático tornaria regiões inabitáveis

Até agora, porém, os países não estão neste caminho. Se as nações continuarem assim e mantiverem as suas políticas atuais, isso levará a “um mundo diferente daquele em que vivemos hoje”.

Segundo o relatório, se os países cumprirem as reduções nacionais de emissões até agora prometidas no âmbito da ONU, isso levaria o mundo a um aquecimento médio de 2,9 ºC neste século. Se todas as outras metas de redução dos países também forem cumpridas, os cientistas esperam 2,5 ºC de aquecimento até 2100.

Mas todos estes compromissos, intenções e planos estão longe de ser suficientes para evitar desenvolvimentos catastróficos. “Vemos secas, incêndios florestais e pessoas sofrendo, morrendo e sendo deslocadas de muitos lugares”, diz Olhoff, referindo-se às mudanças que já são perceptíveis atualmente. “Isso tudo vai ficar muito, muito pior, disso temos certeza.”

Ela enfatiza que as temperaturas em certas regiões podem ser duas vezes mais altas que a média global.

“Se em determinadas regiões da África a temperatura for 6 ºC ou 7 ºC mais alta, poderá ser impossível viver nelas. Isso pode destruir meios de subsistência.” Ohlhoff enfatiza a urgência da redução drástica das emissões agora para evitar que algo pior aconteça. “É realmente uma questão de ‘agora ou nunca’ manter a marca de 1,5 ºC.”

​Redução de emissões, mais energias renováveis

O relatório mostra que se todo o petróleo dos campos atualmente existentes e planejados for extraído e queimado, o limite de 1,5 ºC já não poderá ser mantido. Se todas as reservas de gás e carvão também forem extraídas e queimadas conforme previsto, também o cumprimento do limite de 2 ºC se tornaria irreal.

O relatório da ONU considera positivo que muitas formas de energia renovável ​​já estejam disponíveis para substituir os combustíveis fósseis. “Dispomos de muitas tecnologias comprovadas. Elas são econômicas e competitivas em relação aos combustíveis fósseis. Elas só precisam ser implantadas em um ritmo e escala sem precedentes”, disse Olhoff.

Segundo o relatório, “a energia limpa oferece oportunidades significativas para países de baixa e média renda. Isto pode criar novas oportunidades de receitas para a indústria e novos empregos”.

É por isso que é ainda mais importante garantir que os países recebam o apoio adequado “para acelerar a transição verde e reduzir os custos de capital”, explica a economista.

Meta climática exige remoção de CO2 da atmosfera

Mas, para atingir a meta de 1,5 ºC, o mundo precisa, além da transição energética, de métodos adicionais para remover CO2 da atmosfera.

De acordo com o relatório da ONU, cerca de dois bilhões de toneladas de CO2 são atualmente removidas da atmosfera todos os anos através do reflorestamento e da gestão florestal.

Até 2050, seria necessário capturar três vezes mais CO2 para que o mundo se torne neutro em termos climáticos.

O relatório recomenda a expansão de métodos inovadores de extração, como a remoção de CO2 do ar e seu posterior armazenamento em rochas.

Por exemplo, biochar, ou biocarvão, poderia ser produzido a partir de biomassa, como resíduos de madeira e agrícolas. O material sequestra carbono e pode ser introduzido no solo na agricultura, o que ao mesmo tempo aumenta a fertilidade e pode ajudar a reduzir as secas ao armazenar água.

Os autores consideram que vários processos inovadores têm capacidades adicionais de remoção de carbono de quatro bilhões de toneladas de CO2 por ano até 2050.

Ao mesmo tempo, o relatório também alerta contra expectativas excessivas em relação às novas tecnologias.

Quando se trata de reflorestamento, há competição por terras com a agricultura. E as tecnologias para a remoção de CO2 do ar teriam de ser mais desenvolvidas para serem suficientemente eficazes.