A ONU informou nesta quinta-feira que um acordo sobre a organização de eleições na Líbia foi concluído entre o líder do Governo de Unidade Nacional (GNA), Fayez al-Sarraj, e seu rival, Marshal Khalifa Hafter, homem forte do leste do país.

O acordo foi concluído na quarta-feira em Abu Dhabi sob mediação da ONU, durante um encontro que não havia sido anunciado entre os dois homens, indicou no Twitter a Missão de Apoio das Nações Unidas na Líbia (Manul).

“As duas partes concordaram sobre a necessidade de acabar com o período de transição através de eleições gerais, mas também sobre as formas de preservar a estabilidade da Líbia e unificar suas instituições”, declarou a Manul.

A missão não forneceu um calendário para a organização da votação.

Após a queda de Muammar Khaddafi em 2011, a Líbia mergulhou no caos, dilacerada pelas disputas de poder entre muitas milícias.

No plano político, o país é atualmente administrado por duas autoridades rivais: o GNA liderado por Fayez al-Sarraj e apoiado pela comunidade internacional opera em Trípoli, enquanto no leste da Líbia um gabinete paralelo é apoiado pelo Exército Nacional Líbio (ENL), autoproclamado pelo Khalifa Haftar.

Em 18 de janeiro, o emissário da ONU para a Líbia, Ghassan Salamé, disse que esperava convocar “nas próximas semanas” uma Conferência Nacional visando acabar com a transição e, assim, traçar o caminho para eleições presidenciais e legislativas.

Este processo deverá incluir a possibilidade de um referendo sobre um projeto de Constituição, apontou.

Uma vez estabelecido, entre os principais atores, “um novo consenso sobre um calendário nacional para reconstruir um Estado civil líbio unido, estaremos aptos a determinar uma data e um local”, acrescentou.

A última reunião entre Saraj e Haftar aconteceu no final de maio de 2018 em Paris. Na ocasião, discutiu-se a realização de eleições, mas nenhuma parte quis se comprometer formalmente.

Em novembro, a Itália, parceira histórica da Líbia, tentou, sem sucesso, uma nova aproximação entre Sarraj e Haftar durante uma reunião em Palermo. Mas o marechal Haftar boicotou a reunião.

O anúncio desse acordo acontece no momento em que o marechal Haftar tenta expandir sua influência e se lançou, em janeiro, à conquista do sul do país, uma vasta região desértica há muito marginalizada pelas autoridades e que se tornou um local assombrado pelos jihadistas e traficantes de todos os tipos.

Ao receber o apoio de tribos locais, assumiu o controle, sem lutar, da cidade de Sebha, capital da região, bem como do Al-Sharara, um dos maiores campos de petróleo do país, resultando na suspensão de sua produção.

A operação visa oficialmente, de acordo com o ENL, “limpar” esta região de “terroristas e criminosos”, bem como de grupos rebeldes do Chade baseados no sul da Líbia.

A Líbia também se tornou o playground de traficantes de seres humanos sem escrúpulos que organizam enormes travessias para a Europa de milhares de migrantes em sua maioria africanos em precárias embarcações, ajudando a tornar o Mediterrâneo um vasto cemitério.