ONU: 20% das crianças na Cidade de Gaza estão desnutridas

ONU: 20% das crianças na Cidade de Gaza estão desnutridas

"SegundoChefe da agência para os refugiados palestinos afirma que fome atinge inclusive seus funcionários e que o "sistema humanitário inteiro está colapsando" no território."'As pessoas em Gaza não estão nem mortas nem vivas, são cadáveres ambulantes', relatou-me um colega", afirmou nesta quinta-feira (24/07) o chefe da Agência das Nações Unidas de Assistência aos Refugiados da Palestina no Oriente Médio (UNRWA), Philippe Lazzarini, alertando para a gravidade da situação dos moradores e do sistema de ajuda humanitária do enclave palestino.

Em um post no X, ele disse que uma em cada cinco crianças está desnutrida na Cidade de Gaza, e que a fome está aumentando a cada dia.

"Quando cresce a desnutrição infantil, os mecanismos de enfrentamento falham, o acesso a alimentos e cuidados desaparece, a fome começa a se instalar silenciosamente. A maioria das crianças atendidas por nossas equipes está definhando, fraca e correndo alto risco de morrer se não receber o tratamento de que necessita urgentemente. Mais de 100 pessoas, a grande maioria crianças, morreram de fome segundo relatos", escreveu.

Ele acrescentou que os próprios funcionários da UNRWA estão desmaiando no trabalho devido à fome.

"A crise que se aprofunda afeta a todos, incluindo aqueles que tentam salvar vidas no enclave devastado pela guerra. Os profissionais de saúde da linha de frente da UNRWA estão sobrevivendo com uma pequena refeição por dia, muitas vezes apenas lentilhas, se é que as conseguem", afirmou Lazzarini, citando relatos de seus funcionários na Faixa de Gaza.

"Quando os cuidadores não conseguem encontrar o suficiente para comer, todo o sistema humanitário entra em colapso" alertou.

"Os pais estão com fome demais para cuidar de seus filhos. Aqueles que chegam às clínicas da UNRWA não têm energia, comida ou meios para seguir as orientações médicas. As famílias não conseguem mais lidar com a situação, estão em colapso, incapazes de sobreviver."

Lazzarini afirmou que a agência possui uma grande quantidade de alimentos estocados nos países vizinhos à Gaza e pediu que Israel libere o acesso de ajuda ao enclave. "Temos o equivalente a 6 mil caminhões carregados de alimentos e suprimentos médicos na Jordânia e no Egito."

ONGs criticam bloqueio à ajuda humanitária

A ONU e grupos humanitários que tentam entregar alimentos a Gaza dizem que Israel, que controla o que entra e sai no território, está bloqueando as entregas de ajuda humanitária, e acusaram tropas israelenses de mataram centenas de palestinos a tiros próximo aos pontos de coleta desde maio.

Segundo o Ministério da Saúde de Gaza, administrado pelo Hamas, 111 pessoas já morreram de fome em Gaza, a maioria delas nas últimas semanas. A Organização Mundial da Saúde (OMS) afirmou que não conseguiu entregar alimentos por quase 80 dias entre março e maio e que a retomada das entregas de alimentos ainda estava muito abaixo do necessário.

Em um comunicado divulgado na quarta-feira, 111 organizações, incluindo a Mercy Corps, o Conselho Norueguês para Refugiados e a Refugees International afirmam que mesmo com toneladas de alimentos, água potável e suprimentos médicos intocados nos arredores de Gaza, os grupos de ajuda humanitária estão impedidos de entregá-los.

Israel, que cortou todo o fornecimento para Gaza desde o início de março e o reabriu com novas restrições em maio, afirma estar comprometido em permitir a entrada de ajuda, mas deve controlá-la para evitar que seja desviada por militantes do Hamas. Tel Aviv afirma ter deixado comida suficiente entrar em Gaza durante a guerra e culpa o Hamas pelo sofrimento dos 2,2 milhões de habitantes de Gaza.

Os israelenses acusam a ONU de não agir em tempo hábil, afirmando que 700 caminhões de ajuda humanitária estão parados em Gaza. "É hora de eles se recomporem e pararem de culpar Israel pelos gargalos que estão ocorrendo", disse o porta-voz do governo israelense, David Mercer, nesta quarta-feira.

"Temos um conjunto mínimo de requisitos para poder operar dentro de Gaza", afirmou Ross Smith, diretor de emergências do Programa Mundial de Alimentos da ONU (PMA) à agência de notícias Reuters. "Precisamos que não haja agentes armados perto de nossos pontos de distribuição, perto de nossos comboios."

Mais de 60 mil mortos deste o início do conflito

O embaixador de Israel na ONU, Danny Danon, disse ao Conselho de Segurança nesta quarta-feira que Israel agora concederá vistos de apenas um mês a funcionários internacionais da UNRWA.

A guerra na Faixa de Gaza teve início após os ataques terroristas do Hamas que mataram cerca de 1.200 pessoas solo israelense, além de outras 251 que foram levadas como reféns.

Desde então, a ofensiva israelense em Gaza matou quase 60 mil palestinos, segundo o Ministério da Saúde do enclave, além de reduzir a maior parte do território a ruínas e forçar quase toda a população a fugir de suas casas diversas vezes.

rc/bl (Reuters, ots)