SÃO PAULO (Reuters) – O Operador Nacional do Sistema Elétrico (ONS) projetou que a carga de energia do sistema interligado do Brasil deve fechar maio com salto de 10,7% ante mesmo mês de 2020, afetada por maiores índices de isolamento social no ano passado devido à pandemia e com leve redução frente à previsão da semana anterior, enquanto cortou também estimativas de chuva na região das hidrelétricas.

Os menores volumes esperados para as precipitações na área das usinas vêm após o final do chamado “período úmido”, encerrado em abril e visto como o pior das últimas duas décadas no país, com a seca exigindo uso adicional de termelétricas para atendimento à demanda por energia desde outubro passado.

Em boletim nesta sexta-feira, o ONS apontou que as chuvas nos principais reservatórios, do Sudeste e do Centro-Oeste devem alcançar apenas 62% da média histórica para este mês, abaixo dos 64% a semana anterior.

No Nordeste, segunda região mais importante em termos de capacidade de armazenamento, as chuvas foram estimadas em 38% da média para maio, também inferiores aos 40% do boletim passado.

No Sul, houve corte para 22% nas projeções, ante 25% na semana anterior, enquanto apenas o Norte tem aumento esperado, para 87%, de 82% antes.

Com a redução das chuvas nas hidrelétricas, principal fonte de geração do Brasil, o ONS passou a projetar despacho de termelétricas no total de 5,7 gigawatts na próxima semana, 27% acima dos 4,5 gigawatts projetados na semana anterior.

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Na semana passada, o Comitê de Monitoramento do Setor Elétrico (CMSE), formado por membros do governo e técnicos, decidiu que poderia haver ampliação da geração térmica para atender à demanda e poupar água nos reservatórios hídricos em meio à seca.

O CMSE apontou que o país teve entre setembro e abril o pior volume de afluências no histórico desde 1931.

Nesta terça-feira, o ministro de Minas e Energia, Bento Albuquerque, disse que o país vive uma “crise hidrológica”, mas garantiu há condições de garantir o suprimento.

Ele ressaltou, no entanto, que o atendimento à demanda “vai exigir medidas excepcionais” e atenção das autoridades.

Um dia antes, na segunda-feira, o presidente Jair Bolsonaro havia expressado preocupação com o suprimento de energia, ao comentar que o país vive “a maior crise hidrológica da história” e que isso geraria “dor de cabeça” para o setor elétrico.

O cenário já tem gerado pressão sobre o custo da energia para os consumidores, uma vez que o acionamento de termelétricas é mais caro que a produção das usinas hídricas.

Custos associados ao uso das térmicas que são repassados para os consumidores já somavam quase 4 bilhões de reais apenas no primeiro trimestre, acima dos 3,7 bilhões registrados durante todo o ano de 2020, segundo dados da Câmara de Comercialização de Energia Elétrica (CCEE).

BANDEIRA TARIFÁRIA

A situação de seca também levou ao acionamento neste mês da chamada bandeira tarifária vermelha nas contas de luz, que gera custos adicionais para os consumidores em momentos de menor oferta de energia.

A comercializadora Esfera Energia projetou à Reuters que as chuvas fracas devem manter a bandeira vermelha, ou mesmo levar à bandeira vermelha nível 2, com sobrecusto ainda maior, durante todo o restante de 2021.

A empresa, que antes via condições de as cobranças adicionais nas tarifas caírem em alguns meses do ano, com a aplicação da bandeira amarela, agora espera uma piora da situação, com bandeira vermelha nível 2 aplicada em todo período entre junho e novembro.


O segundo nível da bandeira vermelha gera cobrança extra de 6,243 reais para dada 100 quilowatts-hora consumidos, contra 4,169 reais do primeiro nível. A Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel) ainda tem avaliado aumentar os valores para 7,571 reais e 4,599 reais, respectivamente.

(Por Luciano Costa)

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