Após ter sido acusado de roubo, Ahmet Guresci foi vítima da brutalidade das forças de segurança turcas, que são acusadas de “tortura” por ONGs como a Anistia Internacional e a Human Rights Watch (HRW) após o terremoto que devastou o sul da Turquia.

O homem de 27 anos foi preso cinco dias depois dos tremor por “suspeitas de saques e outros crimes”, junto a seu irmão mais velho, Sabri, que relatou espancamentos e atos violentos antes da morte de Ahmet, afirmaram as duas ONGs.

Durante sua prisão, “até dez policiais” o agrediram “durante muito tempo, tiraram suas roupas, torceram seus testículos e tentaram violentá-lo analmente com cassetetes”, escreveram as organizações em um relatório publicado nesta quarta-feira (5).

De acordo com as ONGs, a necropsia do homem mostrou “uma lesão cerebral que pode ter causado sua morte e hematomas em seu corpo”.

Além disso, um boletim médico de seu irmão indica que ele também tinha “lesões e hematomas longos nos ombros, costas, nádegas e extremidades, além de um polegar quebrado, o que corresponde à versão de que foi espancado com cassetetes e chutado pelos policiais”, acrescentou a mesma fonte.

De acordo com a Anistia Internacional e a Human Rights Watch, “três policiais foram suspensos enquanto durar a investigação”.

As ONGs ainda documentaram 13 casos de violência das forças de segurança em que 34 vítimas, todos homens, foram espancados por policiais, gendarmes ou soldados destacados no local do terremoto. No entanto, até o momento nenhuma outra morte foi relatada.

Os ministérios turcos da Justiça e do Interior afirmaram que possuem uma política de “tolerância zero sobre a tortura” e responderam que as conclusões das duas instituições são apenas “afirmações vagas sem qualquer fundamento”.

Para elaborar o relatório, a Anistia Internacional e a HRW utilizaram documentos oficiais (queixas, boletins médicos) e, “quando possível”, vídeos relacionados à violência.

– Resposta “decepcionante” –

Em um vídeo de 32 segundos que circulou em “quatro canais diferentes do Telegram em 12 de fevereiro”, um homem é “agredido por um grupo de pessoas à paisana e policiais também participam” dos abusos, que contam com a presença de gendarmes.

A vítima, da cidade de Antakya, fortemente atingida pelo terremoto, estava socorrendo um amigo, que também foi agredido pelas forças de segurança. Os dois homens conseguiram provar sua inocência e foram liberados, mas prestaram queixa sobre o incidente.

Estes 13 casos “são apenas a ponta do iceberg”, diz Emma Sinclair-Webb, diretora associada da Human Rights Watch e representante da ONG na Turquia, onde o terremoto deixou mais de 50 mil mortos.

“Temos que admitir que houve um desafio de segurança [para as autoridades], com roubos e saques”, disse ela. “Mas a polícia e a gendarmaria têm a responsabilidade de manter as pessoas seguras, o que não significa torturá-las ou espancá-las, mesmo que sejam suspeitas de roubo”, completou.

O estado de exceção, declarado por três meses nas áreas afetadas pelo terremoto, “não deve levar à anarquia e à impunidade, tortura e outros maus-tratos”, disse Esther Major, pesquisadora da Anistia Internacional.

Major espera que, após uma resposta inicial “decepcionante”, as autoridades turcas “reajam com a tolerância zero de que falam e realmente investiguem” os casos, para que os culpados “respondam” por estes atos “repugnantes”.

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