Uma ONG espanhola solicitou nesta segunda-feira (5) refúgio para 121 migrantes socorridos no Mediterrâneo e anunciou que continuará suas operações de resgate, apesar dos esforços dos Estados europeus para cortar esta via migratória explorada pelas máfias.

A Proactiva Open Arms é uma das ONGs que salvam migrantes no mar, em meio ao fechamento de portos na Itália e em Malta, com o objetivo de forçar uma mudança nas políticas da União Europeia.

“Continuaremos até que a política migratória da UE mude”, assegurou à AFP o fundador da Proactiva Open Arms, Óscar Camps, em uma entrevista por telefone.

Não é a única: a SOS Méditerranée e os Médicos sem Fronteiras, que precisou suspender suas operações em dezembro, fretaram um novo navio, o Ocean Viking, que zarpou no domingo de Marselha.

Agora a embarcação se dirige para a costa líbias para resgatar aqueles se arriscam na perigosa travessia do Mediterrâneo central, onde 576 perderam a vida dos 840 migrantes mortos neste mar em 2019, segundo a Organização Internacional das Migrações.

Para evitar estas mortes, Camps pede a Bruxelas a abertura de “vias seguras para que a gente possa pedir asilo e refúgio sem entregar este processo ao crime organizado”.

O papel das máfias de tráfico de pessoas, que amontoam os migrantes em embarcações muito precárias, é denunciado tanto pela Itália e seus sócios europeus como pelas ONGs.

Para Roma, entretanto, salvar os migrantes apenas estimula as máfias que os abandonam no meio do mar contando com a operação humanitária de resgate.

Para as ONGs, a incapacidade europeia para reformar sua política de refúgio deixa essas pessoas sem outra opção que não seja confiar sua vida a essas redes.

“Dizer que são os barcos de salvamento os que incitam as travessias é falso. Inclusive sem barcos, as saídas continuam e se reportam numerosos naufrágios”, declarou à AFP o diretor de operações de SOS-Méditerranée Fréderic Penard.

“Nossa presença no mar é para salvar vidas. Esperamos que os Estados nos compreendam e se unam a nós”, insistiu.

– ONGs “bodes expiatórios” –

Os Estados, até agora, fizeram o contrário.

O barco Aquarius dessa ONG suspendeu suas atividades em dezembro de 2018, após 30.000 vidas resgatadas, porque se viu privado de sua bandeira de Gibraltar primeiro e do Panamá depois.

A ONG lançou sua nova campanha com o Ocean Viking após obter a bandeira norueguesa.

A Itália confiscou o Sea Watch da ONG alemã de mesmo nome e chegou a deter temporariamente sua capitã Carola Rackete, a primeira a desafiar a proibição de Roma e entrar em junho à força na ilha de Lampedusa para desembarcar 40 migrantes.

Se os barcos humanitários “entrarem em águas territoriais italianas, os confiscaremos um a um. Veremos quem cansa antes”, disse na quinta-feira o ministro do Interior italiano Matteo Salvini.

O Open Arms ficou meses retido em Barcelona pelo governo espanhol que, quando o buque zarpou novamente para a zona de resgate no final de junho, o ameaçou com uma sanção de até 900.000 euros.

Para Matteo Villa, pesquisador do Instituto italiano de estudos de política internacional, “não há provas de uma ação concertada (dos Estados europeus contra as ONGs), mas há uma convergência de interesses”.

“As ONGs estão isoladas, apontadas como bodes expiatórios”, afirmou.

Para Gemma Pinyol, pesquisadora de migrações na Universidade Pompeu Fabra de Barcelona, as ONGs lembram à UE “que as medidas tomadas não funcionam, que as pessoas continuam saindo em situações muito precárias e morreriam se não fossem as ONGs”.

Elas não perdem a esperança. Alan Kurdi, da ONG alemã Sea Eye, desembarcou 40 migrantes em Malta no domingo, depois de um acordo entre países europeus para redistribuí-los.

Camps pede uma solução parecida para a Open Arms: “Devemos desembarcar essas pessoas aqui. Que Itália, Malta ou mesmo a União Europeia encontrem uma solução”.