ONG denuncia que refugiados eritreus foram vítimas de crimes de guerra na Etiópia

ONG denuncia que refugiados eritreus foram vítimas de crimes de guerra na Etiópia

Refugiados eritreus foram vítimas de abusos, como execuções sumárias e estupros, que constituem “crimes de guerra” durante o conflito no norte da Etiópia, denunciou a organização Human Rights Watch (HRW) em um relatório publicado nesta quinta-feira (16).

A ONG acusa soldados eritreus e combatentes rebeldes da região etíope de Tigré de envolvimento nos crimes, cometidos em grande escala e que incluem também repatriação forçada e danos a dois campos de refugiados.

“Os horríveis assassinatos, estupros e saques de refugiados eritreus em Tigré são claramente crimes de guerra”, disse Laetitia Bader, diretora de ONG para o Chifre da África.

“Por muitos anos, Tigré foi um paraíso para os refugiados eritreus que fugiam da perseguição”, recordou. “Mas hoje, já não se sentem mais seguros”.

O norte da Etiópia é palco de combates desde novembro, quando o primeiro-ministro Abiy Ahmed enviou o Exército ao Tigré para expulsar as autoridades regionais da Frente de Libertação do Povo Tigré (TPLF), que ele acusou de atacar acampamentos militares.

O regime da Eritreia, inimigo da TPLF, que governou a Etiópia durante a guerra de fronteira entre os dois países de 1998 a 2000, apoiou Addis Abeba militarmente enviando tropas para esta região.

Antes do início da guerra, havia 92 mil refugiados eritreus em Tigré, incluindo mais de 19 mil nos campos de Hitsats e Shimelba, de acordo com a Agência Etíope para Refugiados e Retornados (ARRA).

– Refugiados desaparecidos –

As forças da Eritreia e do Tigré entraram em confronto pela primeira vez perto de Hitsats cerca de duas semanas após o início da guerra.

HRW afirma ter recebido “informações credíveis” de que as tropas da Eritreia mataram 31 pessoas na cidade de Hitsats.

A AFP também verificou que, quando os combates chegaram ao campo de Hitsats, milicianos pró-TPLF atacaram refugiados em retaliação e mataram nove jovens eritreus em frente a uma igreja.

Quando os eritreus assumiram o controle do campo, 17 refugiados feridos foram levados para a Eritreia para suposto tratamento, de acordo com a HRW. Mas a maioria desses refugiados ainda está desaparecida, assim como 20 ou 30 outros que foram detidos, “incluindo membros do comitê de refugiados e supostos opositores, entre eles duas mulheres”.

Depois de retomar o controle da área em dezembro, as forças de Tigré começaram a roubar, prender, estuprar e atacar os refugiados, causando dezenas de mortes, denunciou.

As forças da Eritreia voltaram no mês seguinte e forçaram os que permaneceram nos campos a partir. Imagens de satélite mostram que logo em seguida o acampamento foi parcialmente destruído, de acordo com a HRW.

Milhares de refugiados de Hitsats e Shimelba continuam desaparecidos.

Centenas deles não tiveram escolha senão retornar à Eritreia no que a HRW descreveu como “repatriação forçada”.

Alguns foram para os acampamentos Mai Aini e Adi Harush, mais ao sul. Mas em julho caíram sob o controle da TPLF.

A ARRA acusou a TPLF de ter implantado artilharia pesada em Mai Aini e Adi Harush, saquear veículos e depósitos de ajuda e impedir a saída dos refugiados, o que equivale a “tomada de reféns”. A TPLF nega.