Os excessos contra os cristãos estão em alta, principalmente na Ásia, que está a um passo de se juntar ao Oriente Médio e África, de acordo com a ONG Open Doors (Portas Abertas), que publicou nesta quarta-feira seu “índice da perseguição” dos fiéis de Cristo.

No entanto, um indicador apresentou melhoria, o de cristãos mortos “por razões relacionadas a suas crenças”, estimado em 1.173 em todo o mundo no ano, contra 7.100 no período anterior, de acordo com o relatório anual da organização fundada na Holanda.

“A perseguição aos cristãos está aumentando ano a ano”, diz o relatório, com base em informações de campo, cruzadas com outros dados, abrangendo 12 meses entre 1º de novembro de 2015 e 31 de outubro de 2016.

Pela primeira vez, Open Doors estimou o número de cristãos perseguidos nos 50 países mais problemáticos, que serviram para a elaboração de seu ranking: 215 milhões de pessoas são consideradas vítimas de perseguição em nível de “forte a extremo”, ou um terço da população cristã destes Estados.

Como todos os anos, há 16 anos, a Coreia do Norte está no topo do “índice global de perseguição de cristãos em 2017”, seguida de perto por quatro países: Somália, Afeganistão, Paquistão e Sudão.

O número de cristãos mortos identificados pela organização chegou a 1.173 contra 7.100 em 2015, após vários anos de aumento (1.201 mortes em 2012, 2.123 em 2013 e 4.344 em 2014).

“Crises muito violentas que impactaram os números em 2015 diminuíram de intensidade, seja porque os grupos extremistas perderam força (especialmente o Estado Islâmico no Iraque e na Síria), seja porque os cristãos já estão mortos ou fugiram da região”, indica Open House em seu relatório, compilado anualmente desde 1997.

A Nigéria continua a ser o país onde o número de cristãos mortos é o mais elevado, com 695 vítimas. O grupo extremista “Boko Haram está agora na defensiva, mas a violência anti-cristã também é praticada pelos nômades peuls”, comentou à AFP o diretor da organização na França, Michel Varton.

Nacionalismos contra minorias

Um ano após alertar para uma “ascensão jihadista” no Oriente Médio e na África, Open Doors revela “uma perseguição menos violenta”, mas uma “opressão diária que, ganha terreno”.

“O que nos impressionou este ano, é a situação na Ásia”, observa Michel Varton, ressaltando que “o fortalecimento do nacionalismo hindu ou budista tem feito das minorias, incluindo cristãs, alvos de violência”.

De fato, a Índia, 15º, nunca esteve em posição tão alta no ranking: 39 dos 64 milhões de cristãos no país “sofrem severa perseguição”, de acordo com Open Doors, que fala de “40 ataques por mês” (pastores espancados, igrejas incendiadas, novos convertidos assediados, etc).

Outros países asiáticos no índice são Vietnã (17º), Laos (24), Bangladesh (26) e Butão (30).

Mas é no Iêmen, 9º no ranking, que a perseguição mais aumentou em um ano, com cristãos “pegos no fogo cruzado” entre os sunitas pró-sauditas e xiitas huthis.

Duzentos e vinte e cinco cristãos foram mortos por causa de sua fé em nove países fora do ranking, de acordo com Open Doors. Incluindo a França, onde a ONG lamenta duas mortes: de Jacques Hamel, o padre católico assassinado em julho de 2016 por dois jihadistas em uma igreja, mas também um migrante iraniano no campo de Grande-Synthe (norte) em dezembro de 2015, cuja “conversão ao cristianismo provocou a agressão” fatal.

O número de igrejas alvo de violência também diminuiu, com 1.329 edifícios afetados, incluindo 1.188 nos 50 países do índice.

A ONG estima que esses números, que incluem apenas os assassinatos de cristãos e violências contra igrejas “provados de maneira concreta”, estão “abaixo da realidade”.

A Coreia do Norte, por exemplo, não aparece entre os dados dos mortos, em razão da “falta de informações confiáveis” no país mais fechado do planeta, “onde dezenas de milhares de cristãos estão detidos em campos de trabalhos forçados”.