A ONG Proactiva Open Arms criticou nesta segunda-feira a proposta para levar 107 migrantes socorridos no Mediterrâneo ao arquipélago espanhol das Ilhas Baleares, a cerca de 1.000km da ilha de Lampedusa, onde está localizada sua embarcação de resgate.
A bordo do Open Arms há 18 dias em alguns casos, os migrantes poderão superar o recorde de 19 dias de bloqueio sofrido pelos 32 migrantes resgatados pelo SeaWatch3 e desembarcados finalmente em Malta em janeiro.
“Depois de 18 dias de estagnação, Itália e Espanha parecem ter chegado a um acordo, identificando a Maiorca como um porto de desembarque. Uma decisão que nos parece completamente incompreensível”, denunciou a Proactiva Open Arms em um comunicado.
“Com nosso barco a 800 metros das costas de Lampedusa, os estados europeus estão pedindo a uma pequeña ONG como a nossa, que faça frente (…) a 3 dias de navegação, em condições climáticas adversas”, acrescentou.
– “Crise psicológica” –
“É urgente terminar já com a experiência desumana e inaceitável que as pessoas que resgatamos no mar estão vivendo”, insistiu a ONG, apontando uma “grave crise psicológica à bordo”.
No domingo, seu fundador Óscar Camps publicou um vídeo de quatro migrantes que saltaram do barco para tentar chegar a nado até Lampedusa antes de serem devolvidos ao barco.
Diante da recusa de Roma em acolher os migrantes, o governo espanhol ofereceu no domingo o porto de Algeciras, no extremo sul da Espanha.
A ONG julgou “totalmente inviável” realizar esse trajeto dada a situação à bordo, e Madri propôs as ilhas Baleares, mais próximas, mas ainda a mil quilômetros do navio.
Desmentindo um acordo com a Itália, o executivo espanhol lamentou nesta segunda-feira não ter recebido uma “resposta clara e direta” a este oferecimento.
“Não se trata de aceitar ou de não aceitar”, replicou uma porta-voz da ONG.
“A resposta que lhes demos é de que não podemos garantir a segurança em nosso nosso barco dessas pessoas (…) e que Itália e Espanha assumam responsabilidades sobre essas pessoas, para que sejam tomadas as soluções”, acrescentou.
O ministro italiano de Transportes, Danilo Toninelli, assegurou no domingo que os guarda-costeiros italianos estão “preparados para acompanhar a ONG para um porto espanhol”.
A Comissão Europeia celebrou “a boa vontade da Espanha”, mas pediu aos Estados-membros e às ONGs que “encontrem uma solução que funcione e permitam o desembarque das pessoas à bordo do Open Arms em um prazo mais curto”.
Seis países europeus (Alemanha, Espanha, França, Luxemburgo, Portugal e Romênia) têm um acordo para dividir os migrantes quando eles desembarcarem.
– Madri e Roma contra a Open Arms –
Criticando que Itália “fechou seus portos de uma maneira totalmente ilegal e incompreensível”, a número dois do governo espanhol, Carmen Calvo, também criticou a ONG.
“Oferecemos absolutamente tudo porque queremos que essas vidas não corram mais risco nem mais sofrimento, mas o que mais podemos fazer?”, indagou.
O embate o entre o ministro italiano do Interior, Matteo Salvini, e as ONGs de resgate coincide com uma grave crise política em Roma que desestabiliza o governo.
Salvini aceitou acolher 27 migrantes menores não acompanhados do Open Arms, mas manteve seu veto para o restante dos passageiros.
“Por que o Open Arms não vai para a Espanha? Em 18 dias, podiam ter ido e voltado três vezes a Ibiza e Formentera (ilhas do arquipélago das Baleares). Estão travando uma batalha política”, denunciou nesta segunda.
Apesar do fechamento dos portos às ONGs, os migrantes continuam chegando em menor número à costa italiana.