Vinte anos após a invasão do Iraque, os Estados Unidos ainda não indenizaram os sobreviventes de abusos aos direitos humanos na prisão de Abu Ghraib, denunciou a organização Human Rights Watch (HRW) nesta segunda-feira (25).

“Vinte anos depois, os iraquianos que foram torturados por militares dos Estados Unidos ainda não têm um caminho claro para apresentar uma reclamação ou receber qualquer forma de indenização ou reconhecimento do governo dos Estados Unidos”, afirmou Sarah Yager, diretora da HRW em Washington.

“Funcionários dos Estados Unidos afirmaram que preferem deixar a tortura no passado, mas os efeitos de longo prazo da tortura continuam a ser uma realidade diária para muitos iraquianos e suas famílias”, protestou.

O grupo de direitos humanos conversou com alguns deles, como Taleb al Majli, um ex-prisioneiro que afirma ser o homem retratado em uma fotografia que circulou pelo mundo. Na foto, soldados dos Estados Unidos empilham prisioneiros nus e encapuzados em uma pirâmide humana em Abu Ghraib.

Al Majli disse que foi humilhado sexualmente e abusado com cães e mangueiras. Ele alega ter sido libertado após 16 meses sem acusações, mas continuou a se morder as mãos e os pulsos para tentar lidar com o trauma, o que deixou cicatrizes enormes.

“Aquele ano e quatro meses mudaram completamente o meu ser para pior. Isso me destruiu e destruiu minha família”, declarou à HRW, que esclarece que não pôde verificar completamente a versão dos fatos relatada pelo homem.

Pelo menos 11 soldados americanos foram condenados por cometer abusos aos direitos humanos em Abu Ghraib, mas muitas vozes críticas lamentam que as responsabilidades não tenham sido apuradas no topo da hierarquia militar.

De acordo com a HRW, não existe um caminho legal para que as vítimas de Abu Ghraib recebam indenização, nem pelo sistema americano nem pelo sistema iraquiano.

“Os Estados Unidos devem oferecer indenização, reconhecimento e desculpas oficiais aos sobreviventes de abusos e suas famílias”, afirmou Yager.

Estima-se que a coalizão liderada pelos Estados Unidos tenha detido cerca de 100 mil iraquianos entre 2003 e 2009.

A HRW cita o Comitê Internacional da Cruz Vermelha, que em 2004 afirmou que os serviços de inteligência militar da coalizão liderada pelos Estados Unidos estimaram que entre 70% e 90% dos detidos foram presos por engano.

O ex-presidente dos Estados Unidos Barack Obama, eleito em 2008, prometeu que os Estados Unidos não “torturariam”, mas optou por não responsabilizar os funcionários da administração anterior do republicano George W. Bush.

Devido a uma lei aprovada pelo Congresso, os Estados Unidos também não compensaram os prisioneiros libertados da prisão de Guantánamo, em Cuba.

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