Nas últimas semanas, o mercado de capitais também adoeceu com o coronavírus. A pandemia contamina a população aos poucos e as ações da B3, aos sustos. Em um mês, o Ibovespa caiu 35,3% — de 115 mil pontos em fevereiro para 68 mil em março. Em apenas duas semanas, a B3 acionou seis vezes o circuit breaker, mecanismo que interrompe as negociações quando o Ibovespa cai excessivamente. A notícia é péssima para os que já possuíam ações e reverte um ciclo de bonança que a B3 comemorava desde 2016, quando o Ibovespa cresceu e o número de investidores também, passando de 564 mil para 1,95 milhão, em 2019. Com a queda da taxa Selic, que torna os investimentos em Renda Fixa menos rentáveis em relação aos de maior risco, a atratividade da bolsa cresceu e os brasileiros se renderam às ações. Agora, o cenário mudou.

“Ninguém sabe o que vai acontecer daqui para a frente e quanto tempo levará para o Ibovespa se recuperar. O mercado terá de crescer muito para conseguir compensar suas perdas” Liliam Carrete, professora de Finanças da FEA-USP (Crédito:Divulgação)

“O momento é de cautela e de tomar todos os cuidados possíveis, não só com a saúde, mas também com os investimentos”, diz Erick Scott Hood, gestor da corretora Guide Investimentos. “Quem estava em fundos de renda fixa atrelado à inflação perdeu dinheiro também. É hora de atenção para quem aplicou em ativos de risco como bolsa, fundo imobiliário e fundos multimercados. Os mercados caíram bastante e os ativos sofreram mais que os outros”, diz. Recentemente, muitos investidores assustados com a volatilidade da bolsa decidiram manter seus investimentos e aguardar que ela se recupere. Afinal, resgatar os ativos nesse momento significa perder muito dinheiro. Para quem possui mais liquidez, Erick recomenda que se aproveite o momento de baixa para buscar oportunidades, como ações ligadas ao petróleo ou de empresas que sofreram mais com o coronavírus. “Para quem aceita um pouco de risco, é uma boa hora para começar a comprar, mas não tudo de uma vez. Um pouco hoje, um pouco depois”, afirma. Além disso, é importante diversificar para não colocar tudo a perder. Nesse momento, para o investidor de perfil moderado, Erick recomenda colocar 20% em renda fixa com liquidez quase imediata, entre eles fundos DI, títulos públicos e CDBs, e 10% em títulos atrelados à inflação. “Hoje a renda fixa pós-fixada atrelada à Selic tem rendimento baixo e talvez o governo a corte ainda mais. A pré-fixada ou atrelada à inflação está mais interessante”, diz. Sua recomendação é colocar 5% do patrimônio em renda variável, 5% em fundo imobiliário, 35% em fundos multimercados e 25% em ativos de crédito privado, como LCI, LCA, debêntures e CRI/CRA.

Cuidados

Já a recomendação de carteira da XP Investimentos para esse mesmo perfil de investidor, moderado, é aplicar 48,6% do patrimônio em renda fixa, sendo 27% pós-fixado, 5,4% prefixado e 16,2% ligado à inflação. Em multimercado, a indicação é de 30,7%, além de 11% em renda variável e 9,7% em internacional. Essa carteira possui fatia reduzida de renda variável em relação às anteriores da XP, por isso é recomendada apenas para quem pensa em comprar novas ações. “O investidor que já perseguia a carteira recomendada deve permanecer com sua alocação inalterada”, diz o relatório da instituição publicado na última quarta-feira 18. “Para os clientes que estão começando agora, ou abaixo do percentual alvo ajustado, nossa recomendação para renda variável é implementar novas posições ao longo de 6 meses”, completa o documento.

Há, no entanto, posições mais cautelosas em relação à bolsa. É o caso de Liliam Carrete, professora de Finanças da FEA-USP. “Eu tiraria e recomendaria resgatar recursos da bolsa e aplicar em renda fixa, mesmo que o rendimento seja menor. Em termos de volatilidade, a renda variável continua muito arriscada”, diz. Para o investidor que pode arriscar e manter o seu dinheiro aplicado por prazo indeterminado, porém, mantê-lo na bolsa é uma opção. “Minha pergunta é: quanto estou disposto a perder ainda hoje?”, diz ela. Em sua análise, Liliam considerou o período que as ações americanas levaram para se recuperar de suas maiores crises. De acordo com seu levantamento, depois da crise de 1929, por exemplo, foram necessários 15 anos para o S&P500, o índice composto pelos 500 principais ativos nas bolsas americanas, recuperar o valor pré-crise. Já na recessão de 2008, foram necessários quatro anos. “Podemos estar diante de uma mudança estrutural e termos com mais frequência epidemias como essa. Ninguém sabe o que vai acontecer daqui para a frente e quanto tempo levará para o Ibovespa se recuperar. O mercado terá de crescer muito para conseguir compensar suas perdas”, diz ela. Permanecer na Bolsa, portanto, será uma decisão que caberá a cada investidor considerar, tendo em vista o risco que pode assumir e o tempo que está disposto a manter o recurso aplicado.

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