Devido à mudança climática provocada pela atividade humana, as ondas de frio extremo na Europa do Norte serão menos frequentes, porém mais perigosas, revelou um estudo divulgado nesta quarta-feira (31).

Em janeiro, Finlândia, Noruega e Suécia passaram por uma forte onda de frio que bateu recordes.

O povoado de Vittangi, no norte da Suécia, atingiu a temperatura mais baixa dos três países desde o início do século, com -44,6°C. Em Oslo, a temperatura caiu abaixo de -30°C pela primeira vez, até -31,1°C.

As ondas de frio causadas pelas correntes de ar do Ártico afetaram os transportes, danificaram tubulações de água e forçaram o fechamento de escolas, enquanto os preços da eletricidade, usada para aquecimento na região, dispararam.

Sem o aquecimento global atribuído à humanidade, as temperaturas na região teriam sido pelo menos quatro graus mais baixas, segundo o estudo realizado por pesquisadores da rede World Weather Attribution (WA).

Com as temperaturas do planeta 1,2°C mais altas do que na era pré-industrial, essas geadas estão se tornando cada vez mais raras no Norte da Europa.

Atualmente, ondas de frio de cinco dias são cinco vezes menos prováveis, e frios extremos de um dia, 12 vezes menos prováveis, de acordo com a equipe de 19 pesquisadores internacionais.

“Em um planeta cada vez mais quente, as ondas de frio se tornam menos intensas e menos frequentes”, afirmou Izidine Pinto, pesquisador do Real Instituto Meteorológico da Holanda.

“Mas isso não é motivo de celebração”, advertiu.

– Populações vulneráveis –

Ondas de frio menos frequentes podem levar os países nórdicos, acostumados com o frio extremo, a baixarem a guarda, alertaram os cientistas.

“As ondas de frio são um grande risco para a região”, disse Dorothy Heinrich, assessora de risco climático do Centro do Clima da Cruz Vermelha e do Crescente Vermelho.

“Mesmo que, em média, sejam menos frequentes, as (ondas de frio) do futuro poderão ter um impacto maior, se a percepção de risco e a preparação diminuírem”, explicou.

Assim como outros fenômenos meteorológicos extremos, as ondas de frio podem ter consequências mortais para populações vulneráveis e frágeis que precisam de proteção especial.

“Idosos, crianças, pessoas em habitações precárias e pessoas sem energia adequada, ou sem casa, são especialmente vulneráveis às baixas temperaturas”, disse Heinrich.

As flutuações de temperatura acima e abaixo do ponto de congelamento também trazem problemas.

“O constante congelamento e descongelamento da água apresenta desafios para a infraestrutura e para a segurança rodoviária”, disse Erik Kjellstrom, climatologista do Instituto Meteorológico e Hidrológico Sueco (SMHI).

“Também pode criar uma camada de neve mais estratificada que aumenta o perigo de avalanches e reduz o acesso a alimentos para renas e outros animais”, acrescentou.

– “Amplificação do Ártico” –

Ao norte dos países nórdicos, o aumento das temperaturas causou o derretimento do gelo marinho, o que, por sua vez, contribui para o aquecimento da região.

Segundo um estudo publicado em 2022 por pesquisadores finlandeses e noruegueses, a temperatura no Ártico subiu quatro vezes mais rápido do que no restante do mundo desde 1979, um fenômeno chamado “Amplificação do Ártico”.

“Enquanto não abandonarmos os combustíveis fósseis e reduzirmos as emissões para zero líquido, a mudança climática continuará fazendo da Terra um lugar mais duro para se viver”, frisou Sjoukje Philip, do Real Instituto Meteorológico Norueguês.

Na cúpula climática COP28, realizada em dezembro passado em Dubai, a comunidade internacional concordou com uma redução progressiva dos combustíveis fósseis. Mas os países produtores de petróleo e gás, incluindo a Noruega, continuam concedendo licenças de exploração, o que atrasa a transição energética exigida por cientistas e ativistas climáticos.

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