A extrema direita tem demonstrado um crescimento gradual na Europa. Um marco relevante foi o avanço desse espectro político durante as eleições para o Parlamento Europeu, onde obteve vitórias contundentes, como na França — resultando na dissolução do parlamento por Emmanuel Macron e antecipação das eleições na França —, conquistou o segundo lugar na Alemanha e consolidou posições na Áustria. Além disso, Donald Trump, representante do Partido Republicano e figura proeminente da direita radical no mundo, lidera as pesquisas frente ao democrata Joe Biden na disputa pela presidência dos Estados Unidos. Esse movimento global em direção à direita, segundo especialistas ouvidos pelo site IstoÉ, pode ter reflexos no Brasil, especialmente nas eleições presidenciais de 2026.

+ As razões que explicam o crescimento da extrema-direita na França

+ Eleições na França: o que pode acontecer após o segundo turno e os desafios para Macron

O pesquisador Thomás Zicman Barros, da Universidade do Minho em Portugal e da Sciences Po em Paris, explicou que essa tendência reflete um fenômeno generalizado de precarização da vida e das relações de trabalho. Ele apontou que na Europa, especificamente, houve uma inflação nos últimos dois anos que não era observada há muito tempo, sem que os salários acompanhassem esse aumento. Isso, combinado com a flexibilização das condições de trabalho, tem gerado dificuldades para as pessoas equilibrarem suas finanças mensais.

“Outro ponto é a perda de capacidade da ação do Estado. Antes, ele conseguia implementar mais políticas públicas para a população. No entanto, vemos no mundo inteiro uma redução desse poder estatal, em parte devido às dinâmicas do capitalismo, que estão cada vez mais internacionalizadas. Os Estados continuam precisando ter ferramentas para regular e realizar a distribuição de renda em nível nacional”, ressaltou.

A convergência desses aspectos levou as pessoas a perderem a confiança nos políticos tradicionais no poder, pois passaram a questionar sua eficácia na resolução de seus problemas.

Pacto da extrema-direita

Com esse descontentamento, figuras que se apresentam como ‘fora do sistema’ passaram a ganhar protagonismo e a confiança do eleitorado, algumas delas chegando ao poder.

Em uma tentativa de catapultar esse movimento, a extrema-direita europeia se reuniu no dia 19 de maio em Madri, na Espanha, e firmou um pacto de dez pontos para servir como plataforma eleitoral na Europa, com pontos polêmicos sobre imigração, soberania, defesa dos cristãos, negacionismo climático e protecionismo agrícola.

As situações na política, entretanto podem mudar a qualquer momento. Um exemplo recente ocorreu na França: próximo do segundo turno das eleições, mais de 200 candidatos retiraram suas candidaturas às legislativas. O objetivo é impedir que a extrema-direita obtenha maioria absoluta e, consequentemente, eleja Jordan Bardella, um candidato ultra-direitista, como primeiro-ministro.

Reflexos no Brasil

Apesar da possível redução de influência, especialmente nas eleições francesas, a extrema-direita ainda pode causar um impacto significativo com repercussões globais.

Para o cientista político Leandro Consentino, a ascensão dos conservadores na França, junto ao possível retorno de Donald Trump à Casa Branca, nos EUA, pode refletir no clima político do Brasil.

“Esse movimento fortalece um discurso desse espectro político no mundo inteiro e, sem dúvidas, ajuda a reforçar o discurso aqui no Brasil para um possível retorno da extrema-direita nas eleições nacionais de 2026”, explicou.

O especialista enfatiza que o processo político desencadeado em um país não necessariamente se replicará em outros, mas os interesses de figuras como Donald Trump, Bardella e Jair Bolsonaro podem influenciar o fortalecimento de forças políticas semelhantes em diferentes territórios.

“No caso do Brasil, em específico, acredito que a ascensão da extrema direita pode causar um fortalecimento dos partidos de mesmo espectro político e desgastar o atual governo em uma possível busca à reeleição em 2026”, finalizou Leandro.