A covid-19 já está suficientemente controlada para que seja suspenso seu alerta máximo, anunciou a Organização Mundial da Saúde (OMS) nesta quinta-feira (5), depois de mais de três anos de uma pandemia que resultou em “pelo menos 20 milhões” de mortes, afundou a economia e agravou a desigualdade global.

“Com grande esperança, declaro que a covid-19 já não é mais uma emergência sanitária de alcance internacional”, afirmou o diretor-geral da OMS, Tedros Adhanom Ghebreyesus.

A pandemia, acrescentou ele, resultou em “pelo menos 20 milhões” de mortes, quase três vezes mais do que o balanço oficial da organização, que registrava pouco menos de sete milhões de mortes em 3 de maio.

Especialistas consultados pelo diretor-geral julgaram que era “hora de mudar para uma gestão de longo prazo da pandemia”, apesar das incertezas que ainda persistem sobre sua evolução.

A fase de emergência “acabou, mas a covid não”, ressaltou Maria Van Kerkhove, chefe técnica da OMS para a covid-19. “Não podemos baixar a guarda”, apontou.

A OMS declarou o nível máximo de alerta em 30 de janeiro de 2020, algumas semanas após a detecção na China dos primeiros casos desta nova doença respiratória viral para a qual não havia tratamento específico.

Mas somente quando o chefe da OMS falou em pandemia, em março de 2020, o mundo tomou consciência da gravidade da situação e foram impostas medidas sanitárias restritivas, que envolveram vários meses de confinamento.

Nessa época, o SARS-CoV-2 já havia iniciado sua rápida e letal jornada pelo planeta.

A luta contra a pandemia foi elaborada gradualmente, muitas vezes em total desordem, como ilustra a gestão caótica da presidência de Donald Trump, frequentemente ignorando as recomendações científicas.

– A pandemia hoje –

Se o número de mortes por covid registradas recentemente caiu 95% desde janeiro, 16.000 pessoas morreram por esta doença entre o final de março e o final de abril, de acordo com estatísticas da OMS.

No entanto, em muitos países, a pandemia passou para segundo plano. Os testes e a vigilância sanitária foram drasticamente reduzidos, apesar da OMS considerar essa estratégia prematura.

As vacinas, que apareceram em tempo recorde no final de 2020, continuam sendo eficazes contra as formas mais graves da doença, apesar das inúmeras mutações do vírus original.

As vacinas foram um sucesso científico inegável, em particular aquelas com RNA mensageiro implementadas pela primeira vez, embora inicialmente monopolizadas pelos países que podiam pagar um alto preço por elas, deixando os demais à mercê por meses.

Até 30 de abril, mais de 13,3 bilhões de doses de vacinas haviam sido administradas.

Os grupos “antivacina” também se mobilizaram massivamente e lançaram suspeitas sobre a vacinação em geral, apoiados por campanhas de desinformação nas redes sociais.

As desigualdades econômicas e o acesso aos cuidados de saúde ficaram brutalmente expostos. Longas filas de brasileiros com enormes cilindros de oxigênio para salvar um ente querido da asfixia, assim como pilhas de corpos à espera da incineração na Índia, marcaram esse período.

E apesar de a pandemia parecer coisa do passado em muitos países, ainda estão surgindo variantes que ameaçam reiniciar a máquina infernal.

“O vírus continua sofrendo mutações e ainda é capaz de provocar novas ondas de contaminação e morte”, enfatizou recentemente o diretor da OMS.

Ele também chamou a atenção para os estragos da covid longa, que se traduz em uma ampla gama de sintomas que podem causar algum tipo de deficiência.

Segundo ele, uma em cada 10 infecções resulta em uma covid longa, o que sugere que centenas de milhões de pessoas podem precisar de cuidados a longo prazo, com um custo econômico e impacto psicológico ainda imprevisíveis.

– Estratégias para evitar outra pandemia –

O mundo agora está buscando a melhor maneira de evitar o próximo desastre sanitário, mas a comunidade internacional ainda não conseguiu determinar com certeza como este vírus sofreu mutações a ponto de ser transmitido entre humanos.

Se, em princípio, os primeiros casos foram detectados no final de 2019 em Wuhan, China, duas teorias colidem.

Uma afirma que a doença se espalhou a partir de um vazamento de um laboratório que estudava esses vírus, enquanto a outra sustenta que um animal intermediário infectado o transmitiu a pessoas que frequentavam um mercado local.

Esta última hipótese parece prevalecer na comunidade científica no momento, mas a obstrução das autoridades chinesas impede o avanço na investigação das origens.

Os países membros da OMS também começaram a discutir um acordo que evitaria uma próxima pandemia e a repetição de erros.

A pergunta agora não é se essa pandemia acontecerá, mas quando.

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