A Organização Mundial da Saúde (OMS) recomendou que mulheres grávidas em zonas afetadas pelo vírus zika passem, se possível, por ecografia já no primeiro trimestre de gestação. Caso os sistemas de saúde não permitam tal prática, todas precisam ter o serviço prestado pelo menos entre a 18.ª e 20.ª semana para tentar detectar se o bebê sofre de microcefalia ou outra má-formação.

A recomendação faz parte de um novo guia publicado nesta segunda-feira, 16, pela OMS direcionado aos médicos e governos sobre como agir diante de mulheres grávidas em regiões com a presença do vírus, como no Brasil. “Se possível, deve ser oferecido às mulheres a oportunidade de fazerem uma ecografia no primeiro trimestre, para determinar com rigor a idade gestacional, porque o exame ecográfico de anomalias fetais, muitas vezes, exige medições antropométrica com base na idade gestacional”, sugeriu a entidade.

A OMS deixou claro que o teste deve seguir orientações específicas. “No contexto da transmissão do vírus zika, a ecografia deve ser dirigida para identificar microcefalia fetal e/ou outras anomalias cerebrais, tais como ventriculomegalia, calcificações, sulcos e convoluções anormais, atrofia cerebral, disgenesia do corpo caloso, impossibilidade de visualizar diferentes porções do cérebro, microoftalmia, e calcificações oculares que tenham sido notificadas em gravidezes afetadas”, disse.

“Embora ainda não seja muito claro o quadro completo das anomalias congênitas que pode resultar da infecção do feto pelo vírus zika, os conhecimentos atuais sobre outras infecções congênitas sugerem que os fetos infectados podem apresentar um espectro muito mais amplo da doença”, explicou.

Medidas

Para detectar os casos de microcefalia, a OMS trouxe também pela primeira vez uma avaliação detalhada aos médicos. “Nos fetos que tenham uma circunferência de cabeça com dois desvios padrão abaixo da média para a idade gestacional, deve suspeitar-se de microcefalia, embora, na ausência de anomalias cerebrais graves, seja comum um desenvolvimento neuropsicológico normal, na maioria dos fetos afetados após o nascimento”, indicou.

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“Nos fetos com circunferência da cabeça três desvios padrão abaixo da média para a idade gestacional, a correlação entre a microcefalia e um desenvolvimento neurológico anormal é maior”, alertou. “Uma circunferência da cabeça com cinco desvios padrão abaixo da média para a idade gestacional é uma indicação de grande redução do tamanho intracranial, podendo ser feito um diagnóstico por ecografia com um grau de confiança razoável”, completou.

Uma segunda ecografia do feto deve ser feita “no final do segundo ou no início do terceiro semestre, de preferência entre a 28ª e a 30ª semana de gestação, para identificar microcefalia do feto e/ou outras anomalias cerebrais”. “Isto porque é possível que a mãe tenha sido infectada e o feto seja afetado depois de um teste inicial negativo para o vírus zika e de uma ecografia normal”, explicou.

Aborto

A OMS não falou explicitamente na possibilidade de um aborto. Mas deixou claro que os casos confirmados devem ser alvos de um “debate sobre os possíveis passos a seguir na gestão da gravidez”.

“A mulher – e o seu companheiro, se ela o desejar – deverá receber aconselhamento não impositivo, para que ela, em consulta com o seu prestador de cuidados de saúde, possa fazer uma escolha plenamente informada sobre os passos seguintes na gestão da sua gravidez”, indicou.

“As mulheres que levem a gravidez até o fim devem receber cuidados e apoio apropriados para gerir a ansiedade, a tensão e o ambiente do parto. Os planos para os cuidados e o tratamento do bebê logo após o nascimento devem ser discutidos com os pais, em consulta com um pediatra ou um neurologista pediátrico, se possível”, sugeriu a OMS.

“As mulheres que pretendam interromper a gravidez devem receber informação rigorosa acerca das opções que lhes são permitidas por lei, incluindo redução de danos, quando os cuidados pretendidos não estiverem disponíveis”, disse. “Todas as mulheres, quaisquer que sejam as suas escolhas individuais relativamente à sua gravidez, devem ser tratadas com respeito e dignidade”, apelou a entidade.

Cuidados

A OMS também sugere que, “para evitar a potencial transmissão por via sexual do vírus zika, os parceiros sexuais das mulheres grávidas, que vivam ou regressem de zonas com transmissão corrente do vírus zika, devem usar as práticas sexuais mais seguras ou abster-se de atividade sexual durante toda a gravidez”.

A OMS sugere que o teste da infecção pelo vírus zika seja realizado em grávidas. Mas “tendo em conta a potencial sobrecarga sobre os recursos sanitários locais atualmente disponíveis”, a OMS não recomenda, nesta altura, que se faça o teste em todas as mulheres grávidas que vivam em zonas de transmissão do vírus.


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