A Organização Mundial da Saúde (OMS) advertiu nesta sexta-feira (21) que o tempo para erradicar o novo coronavírus “se estreita” e que está preocupada com o surgimento de casos sem “vínculo epidemiológico claro” fora da China.

Os novos focos da doença se multiplicam: mais duas mortes no Irã, primeiro contágio no Líbano, duplicação de casos na Coreia do Sul e cerca de 500 prisioneiros contaminados na China.

Sinal do nervosismo, cerca de dez localidades no norte da Itália fecharam bares, escolas, centros esportivos e outros locais públicos na sexta-feira, após a divulgação de 17 casos de infecção em todo o país.

A “janela de oportunidade” para erradicar a epidemia “está se estreitando”, advertiu o diretor da OMS, Tedros Adhanom Ghebreyesus.

“É por isso que pedimos à comunidade internacional que aja rapidamente, incluindo em questões de financiamento. Não é o que estamos vendo”, afirmou.

Na China continental (sem incluir Hong Kong e Macau) o vírus provocou 2.236 mortes e infectou mais de 75.000 pessoas, enquanto em outras partes do mundo são 11 vítimas fatais e 1.100 contaminados

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“Embora o número total de casos fora da China permaneça relativamente baixo, estamos preocupados com o número de casos sem uma ligação epidemiológica clara, como histórico de viagens ou contatos com um caso confirmado”, explicou Tedros.

“Vemos que a situação evolui. Não só aumenta o número de casos mas também vemos diferentes modelos de transmissão”, afirmou Sylvie Briand, diretora do Departamento de Gestão de Riscos Infecciosos da OMS.

Como sinal de sua preocupação, a OMS anunciou a designação de seis enviados especiais, entre eles David Nabarro, ex- coordenador para o ebola durante a epidemia na África ocidental entre 2013 e 2016.

– Mais casos fora da China –

Embora o número de novos casos diários na China tenha caído por quatro dias consecutivos, ele cresceu novamente com 889 diagnósticos em comparação aos 673 do dia anterior, anunciou a Comissão Nacional de Saúde nesta sexta-feira.

A China estabeleceu uma quarentena de fato para dezenas de milhões de pessoas na província de Hubei (centro) e em sua capital Wuhan, epicentro da epidemia.

Vários países proibiram a entrada de viajantes da China e muitas companhias aéreas suspenderam seus voos para o país. Mas essas restrições não impediram o surgimento de novos casos fora da China continental.

O Irã anunciou nesta sexta 13 novos casos de contágio e a morte de outros dois, num total de quatro mortes e 18 infectados. A maioria dos casos na cidade de Qom (150 km ao sul de Teerã).

Na Coreia do Sul, o número de casos quase dobrou na sexta-feira, chegando a mais de 200. Entre eles, cerca de 120 são membros da “Igreja de Jesus Shincheonji”, uma seita cristã localizada na cidade de Daegu (sudeste).

Israel e Líbano confirmaram um caso cada: um israelense que acabara de voltar e um libanês de 45 anos que viajara para Qom.

– “Muito perigoso” –


No Japão, a controvérsia aumentou em torno do navio “Diamond Princess”, atracado em quarentena no porto de Yokohama, perto de Tóquio, desde o início de fevereiro e que continua sendo o principal foco de infecção fora da China.

Dois australianos, que quando desembarcaram deram negativo nas análises, foram declarados infectados quando retornaram à Austrália, o que levantou questões sobre os procedimentos das autoridades japonesas, que autorizaram centenas de passageiros supostamente não infectados a deixar o navio.

Um avião com 129 canadenses que estavam no cruzeiro chegou nesta sexta a uma base militar na província de Ontário.

Outros países continuam a retirar seus cidadãos: um terceiro avião fretado pela França decolou na manhã desta sexta de Wuhan com 28 franceses a bordo e 36 cidadãos de outros países da União Europeia.

– Situação ‘complexa’ –

Numa reunião do Partido Comunista Chinês (PCC), presidida pelo chefe de estado Xi Jinping, os participantes apontaram que o “pico [da epidemia] ainda não havia sido atingido” e que a situação era “complexa” em Hubei. Sinal disso é a morte de um médico de 29 anos em Wuhan.

Em Pequim, as autoridades anunciaram 36 casos no hospital Fuxing e um no hospital da Universidade, uma pessoa internada após ser infectada por dois parentes que a visitaram.

Particularmente preocupante é a situação nas prisões: 200 detidos e sete guardas foram infectados em Jining, na província de Shandong (leste), e há 34 casos em uma unidade de Zhejiang (leste). Em Hubei, foco da epidemia, 271 infecções foram registradas nas prisões.

Muitos chineses voltaram ao trabalho nesta semana, mas o país ainda está meio paralisado com as pessoas em suas casas e a maioria das lojas, restaurantes e escolas fechadas.

A China lançou um anúncio esperançoso nesta sexta: seus pesquisadores poderão realizar no final de abril os primeiros testes em humanos para uma vacina contra vírus.



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