OMS mantém abertas todas as hipóteses sobre a origem da covid-19

Vazamento de um laboratório ou transmissão animal? Após três anos e meio de investigações, a origem da covid-19 continua sendo um mistério segundo a OMS, que lamenta a falta de informações fornecidas pela China.

A pandemia de covid-19 causou milhões de mortes – 20 milhões segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS) – e estragos na economia mundial.

Os primeiros casos conhecidos da doença surgiram no final de 2019 na cidade chinesa de Wuhan, onde está localizado um instituto de virologia conhecido por suas pesquisas sobre os coronavírus.

Para muitos especialistas, entender a origem do SARS-CoV-2, vírus causador da covid-19, é fundamental para aplicar contramedidas eficazes no futuro e evitar novas pandemias.

“Todas as hipóteses devem permanecer sobre a mesa, incluindo a propagação zoonótica e o vazamento em um laboratório”, declarou o diretor da OMS nesta sexta-feira (27), após a apresentação das conclusões de um relatório de especialistas encarregados de examinar a origem do vírus.

Tedros Adhanom Ghebreyesus acrescentou que a China lhes “enviou informações, mas não todas as solicitadas”.

A longa investigação conduzida pelo Grupo Consultivo Científico da OMS sobre as Origens de Novos Patógenos (SAGO) não permite esclarecer sua origem.

“Nada se conclui com certeza absoluta”, reconheceu María Van Kerkhove, epidemiologista americana que dirige o departamento de Prevenção e Preparação para Epidemias e Pandemias da OMS.

A questão de se a covid-19 escapou acidentalmente de um laboratório ou se se propagou de um animal para o ser humano continua sem resposta.

Grande parte da comunidade científica se inclina para a hipótese de uma transmissão ao ser humano por meio de um animal intermediário, provavelmente infectado por um morcego.

– Vazamento: hipótese “nem estudada, nem descartada” –

Mas a hipótese do vazamento de um laboratório, que em um momento foi considerada teoria da conspiração, ganhou popularidade recentemente nos Estados Unidos. Agências como o FBI ou o Departamento de Energia a apoiam agora com diferentes níveis de certeza.

Até mesmo a Casa Branca publicou em abril uma versão revisada de suas informações disponíveis em seu site sobre a covid-19 que promove essa tese como a “verdadeira origem” do vírus.

A principal agência de inteligência dos Estados Unidos, a CIA, também estimou, em janeiro, “com um baixo grau de confiança, que uma origem da pandemia de covid-19 relacionada a pesquisas é mais provável do que uma origem natural”.

A China, por sua vez, classifica essa hipótese como “extremamente improvável”.

Em 2021, uma missão de especialistas designada pela OMS e enviada à China durante um mês pareceu descartar a hipótese de que o vírus tivesse escapado do instituto de virologia de Wuhan.

Essa missão, porém, só conseguiu entrar na China mais de um ano após o início da epidemia, já que Pequim se mostrou muito relutante em permitir sua visita.

Suas conclusões foram recebidas com cautela e até mesmo ceticismo, especialmente nos Estados Unidos.

A OMS solicitou à China “acesso a centenas de sequências genéticas de pessoas infectadas com covid-19 no início da pandemia, informações mais detalhadas sobre os animais vendidos nos mercados de Wuhan, bem como dados sobre os trabalhos realizados e as condições de biossegurança nos laboratórios de Wuhan”.

Mas “até o momento, a China não compartilhou essas informações nem com o SAGO nem com a OMS”, afirma a organização em um comunicado.

Dado que grande parte das informações necessárias para avaliar a hipótese de um vazamento em um laboratório não foi transmitida aos especialistas, “essa hipótese não pôde ser nem estudada nem descartada”, explicou a presidente do SAGO, Marietjie Venter, aos jornalistas.

Os especialistas também solicitaram informações sobre este assunto a outros países, “incluindo Alemanha e Estados Unidos”, mas também não obtiveram resposta, enfatizou.

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