Mais debilitada que nunca, a Organização Mundial do Comércio (OMC) se reúne a partir deste domingo, em Buenos Aires, minada pelas potências econômicas e rachada pelo protecionismo, sob fogo cruzado dos Estados Unidos, que já foi um dos pilares da organização.
Ministros dos 164 países da OMC vão realizar, até quarta-feira, sua reunião bianual, que será a primeira desde que o presidente Donald Trump chegou à Casa Branca e transformou a entidade em um de seus alvos preferidos, por considerá-la nefasta para os interesses de seu país.
Trump atribui aos acordos comerciais o gigantesco déficit americano e a perda de empregos no país.
Pouco depois de assumir o governo, Trump desvinculou os Estados Unidos do nascente tratado de livre comércio entre 12 países da região Ásia-Pacífico (TPP), que concentram 40% do comércio mundial.
Trump também obrigou Canadá e México a renegociar o Tratado de Livre Comércio Norte-Americano (NAFTA ou TLCAN), sob pena de romper o acordo em vigor há 23 anos.
Além disso, o atual governo americano considera a OMC uma organização que impede as devidas sanções a práticas comerciais que considera desleais. Washington deseja instrumentos de defesa mais enérgicos.
O governo dos Estados Unidos é acusado de bloquear o preenchimento de cargos vagos no sistema de solução de controvérsias da OMC, que é praticamente a razão de ser da entidade.
Este sistema dirime pleitos sobre tarifas e subsídios ou batalhas comerciais, como por exemplo a que envolve a americana Boeing com a concorrente europeia Airbus.
Ao contrário dos Estados Unidos, a União Europeia (UE) chega animada pelo multilateralismo.
Na sexta-feira, o bloco fechou um acordo de livre comércio com o Japão e está discutindo outro com o Mercosul, o bloco formado por Argentina, Brasil, Paraguai e Uruguai.
Os emissários da UE conversarão com seus colegas do Mercosul, mas não está claro se farão algum tipo de anúncio.
A OMC, no entanto, está quase paralisada e ninguém espera muito desta reunião.
Há quase uma década a Rodada de Doha para a liberalização do comércio mundial, iniciada em 2001, não avança. A OMC também é criticada por não fazer o suficiente para resolver as divergências de vários membros com a China.
No máximo, alguns países esperam um acordo contra os subsídios à pesca, que prejudica as economias de países ricos e pobres e afeta o ecossistema.
Esta reunião é a primeira da OMC na América Latina e marca o retorno da Argentina ao centro dos eventos mundiais.
Para evitar distúrbios, a Argentina impediu a entrada no país de quase 60 pessoas, que segundo as autoridades poderiam provocar distúrbios.
A decisão provocou críticas diplomáticas.
Várias organizações, no entanto, convocaram protestos a dois quilômetros do local da reunião.