O comércio mundial resistiu melhor do que o previsto ao impacto da guerra na Ucrânia, informou a Organização Mundial do Comércio (OMC) nesta quinta-feira (23), às vésperas do primeiro aniversário do início da invasão russa.

“O comércio mundial seguiu mostrando resiliência e seus resultados superaram as previsões pessimistas para 2022, uma vez que as economias duramente atingidas pela guerra na Ucrânia encontraram outras fontes de abastecimento”, explicou a instituição, com sede em Genebra.

As consequências da guerra nas exportações da Rússia e da Ucrânia são inversas, se forem calculadas em valor, e não em volume, dado que as primeiras cresceram em 2022 15,6% e as ucranianas afundaram 30%.

Segundo o relatório, o comércio em 2022 foi 3% superior à estimativa feita pela OMC em abril, menos de dois meses após o início da invasão russa. Os dados exatos serão divulgados em abril de 2023.

A OMC havia projetado que o volume de exportações cresceria entre 2,4% e 3%, sem excluir uma contração de 0,5% nos piores cenários. “Se os piores cenários não se materializaram, isso se deve a que os países se mostraram moderados nas restrições às exportações, ao contrário do que ocorreu na crise alimentar mundial de 2007-2009”, explicou o economista-chefe da OMC, Ralph Ossa, em entrevista coletiva.

Segundo a OMC, os países encontraram alternativas para amenizar a escassez dos produtos mais afetados pela guerra, como trigo, milho, derivados de girassol, fertilizantes, combustíveis e paládio. Os preços dos produtos mais impactados também subiram menos do que o previsto, entre 4,4% (paládio) e 24,2% (milho).

– Mais exportações russas para a China –

Segundo a OMC, a guerra teve um impacto muito mais prejudicial nas exportações ucranianas do que nas russas. Entre março e novembro de 2022, o faturamento externo da Ucrânia caiu 30% em relação ao mesmo período de 2021 a preços correntes, (sem correção da inflação), enquanto a Rússia faturou 15,6% a mais.

As exportações ucranianas caíram de maneira uniforme para todos os seus parceiros comerciais, embora alguns de seus vizinhos, como Polônia e Hungria, tenham aumentado os pedidos de produtos ucranianos.

As exportações ucranianas de cereais, essenciais para a segurança alimentar de muitos países africanos, caíram 14,9%, obrigando essas nações a diversificar suas fontes de abastecimento. A Etiópia, que dependia em 45% das importações de trigo da Ucrânia e da Rússia, aumentou seus pedidos do grão feitos aos Estados Unidos e à Argentina.

O faturamento externo da Rússia aumentou, apesar das sanções ocidentais, devido à disparada dos preços de muitos de seus principais produtos de exportação, como combustíveis, fertilizantes e cereais, explicou a OMC.

Por país, as exportações russas para a China e a Índia aumentaram, enquanto diminuíram consideravelmente as destinadas ao Reino Unido e aos Estados Unidos.

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