1985 National Geographic: a imagem de Sharbat aos 12 anos de idade (Crédito:Divulgação)

A natureza tingiu com verde, que dizem ser a cor da esperança, os olhos do garoto carioca Davi Gonçalves da Rocha Brito, de 11 anos de idade. Ele nasceu no Rio de Janeiro, e o Brasil lhe deu, em sua carência de democracia social, barriga vazia com muita fome, cabeça cheia com muito medo, violência por todos os lados, pai assassinado quando ele ainda engatinhava e ensaiava os primeiros passos. Para fugir do impiedoso e criminoso domínio das milícias, Taiane Gonçalves, mãe de Davi, pegou o filho, abandonou o apartamento que os abrigava, concedido pelo programa Minha Casa Minha Vida, e juntos foram morar na pobre Cidade de Deus, na zona oeste da cidade – ambos vivem em uma quitinete, com mais dois irmãos, tio e avó. Aí a sorte lhe foi madrinha – e os nomes da sorte são a ONG Nóiz, que faz um excelente trabalho social na comunidade, o presidente da ONG, André Melo, o fotógrafo Wallace Lima e o brechó que emprestou roupas a Davi. A todos ele cativou com o esverdeado de seus olhos. Posou para um ensaio fotográfico, as imagens correram as redes sociais e o garotinho vai assinar contrato com agências de modelos infantis para grifes de roupas. Há pelo menos duas marcas interessadas e os ensaios já estão em andamento.

Sharbat, o mesmo olhar

A afegã Sharbat Gula tinha 12 anos de idade, um a mais que Davi, quando foi fotografada em 1985 pelo americano Steve McCurry. Fugindo da guerra em seu país, ela refugiou-se no Paquistão. Seus olhos verdes e tristes correram o mundo, estampados na capa da conceituada revista National Geographic. Como em Davi, o olhar exprimia o sofrimento na infância.

PANDEMIA
Ex-líder antivacina vê jovem morrer e se torna defensor do imunizante

ARREPENDIMENTO Bacco: “sinto que a culpa foi minha” (Crédito:Divulgação)

Todos os negacionistas da Covid, nos quatro cantos do mundo, e que integram os movimentos antivacinas deveriam olhar, nesse momento, para o médico italiano Pasquale Bacco. Ele foi um ferrenho adversário da vacinação, tanto que está com seu registro profissional suspenso por um semestre. Bacco mudou de posicionamento. O filósofo Immanuel Kant, em um de seus melhores aforismos, escreveu que “o sábio pode mudar de opinião, o ignorante nunca”. Bacco viu, em vídeo, o sofrimento de um homem de apenas 29 anos que morreu de Covid – a vítima seguia à risca os seus argumentos contra a ciência e a imunização. “Sinto que essa morte foi culpa minha”, disse ele ao jornal italiano Corriere della Sera. Vacinou-se. E hoje milita em grupos favoráveis à vacinação.

TRAGÉDIA
Petrópolis desaba e morre. E o Estado, como sempre, se exime de culpa e responsabiliza só as chuvas

DOR Desespero de quem perdeu casa, familiares e amigos: cena que se repete na história (Crédito:CARL DE SOUZA)

Petrópolis, região serrana do Rio de Janeiro, área de altíssimo risco de desabamentos de encostas de morros devido às violentas tempestades características do local. Petrópolis, 1988: 134 mortos. Petrópolis, 2011: 918 mortos. Petrópolis, 2022: 105 mortos até a manhã da quinta-feira 17. Petrópolis, ruas virando corredeiras e gente morrendo desde 1932. A resposta dos representantes do Estado, de tão velha e tão repetida, até já morreu afogada: “Choveu mais do que o esperado”. Pois bem, já que se sabe que sempre chove mais que o esperado, então por que não se tomam providências quando não é época de chuva? Agora, por exemplo, dos R$ 770 milhões que o Estado poderia ter investido em obras de contenção, foram gastos apenas R$ 169 milhões. Tudo bem, na terça-feira choveu 230 mm em três horas. É uma quantidade alucinante mesmo de água. Mas, igualmente alucinante, é o fato de o poder público nada fazer a não ser contar cadáveres. Dessa vez, até a quinta-feira, 13 crianças estavam sumidas, mais 140 adultos seguiam desaparecidos. O Morro da Oficina, famoso desde o Império, sempre o mais castigado, quase veio todo para o chão. Carros e ônibus foram arrastados e tragados pela água como se fossem de papel. Pânico de quem tentava nadar na lama até se afogar, pânico de quem se equilibrava sobre veículos até cair e ser levado para a morte, pânico até de quem assistia pela tevê. Claro que nada será feito, é loucura acreditar que no Brasil o Estado funcionará. Um detalhe: Petrópolis quer dizer em grego “Cidade de Pedro”. Pela Bíblia, é Pedro quem controla as chuvas. Mas ele, por mais santo que seja, precisa do trabalho dos homens públicos.

DESOLAÇÃO A lama resultante de 230 mm de chuvas em três horas e a lama do poder público se misturam: à população só resta partir (Crédito:Silvia Izquierdo)

Petrópolis quer dizer em grego “Cidade de Pedro”. Pela Bíblia, é Pedro quem controla as chuvas. Mas ele, por mais santo que seja, precisa do trabalho dos homens públicos